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Química Nova na Escola
Vol. 39 No4
Novembro de 2017

Editorial

Profissão: Professor

 

O que é preciso para ser um professor? A julgar pela imagem, amplamente divulgada pela mídia, do rosto ensanguentado da Profa. Marcia Friggi, agredida por um aluno em sua escola em Santa Catarina, talvez seja necessário algum treinamento em defesa pessoal. Mas, talvez as exigências não sejam muitas. Um jornal distribuído na região de Campinas, São Paulo, por um dos maiores grupos de comunicação do país, exibiu em manchete, nestes tempos de desemprego em alta: “Professores e garçons estão entre os bicos mais buscados”. Não se pode dizer que se trata de uma opinião isolada. Uma das maiores empresas do ramo de universidades do país contratou um animador de auditório, conhecido por seu avantajado apêndice nasal e por promover a reforma de carros usados, para proclamar em sua propaganda: “Tornese professor e aumente sua renda”. O anúncio acrescentava: “Curso 100% online. Não precisa de vestibular!” Em outro episódio, um partido político estampou em seu site oficial uma iniciativa realmente inovadora: “Sob o comando do prefeito Duarte Nogueira (PSDB), o município de Ribeirão Preto (SP) lançou um projeto que cria um sistema de trabalho cuja ideia é pagar por aulas avulsas a docentes, sem ligação com o município, sempre que faltarem profissionais na rede municipal de ensino. Apelidado de ‘Uber da Educação’ ou ‘Professor Delivery’, a proposta busca resolver o problema da falta de docentes nas escolas. (...) De acordo com o projeto, o professor não teria vínculo empregatício com a prefeitura e o acionamento se daria por aplicativos, mensagens de celular ou redes sociais. Após receber a chamada, o professor teria 30 minutos para responder se aceita a tarefa e uma hora para chegar à escola. Caso contrário, outro seria acionado no seu lugar.”1 Chama a atenção que a Secretária da Educação do município, responsável pela proposta, é uma ex-reitora da Universidade de São Paulo, Suely Vilela. O “Uber da Educação”, porém, foi rejeitado pelo Conselho de Educação de Ribeirão Preto.

A cada vez que nos deparamos com situações como essas, reveladoras da desvalorização do trabalho docente pela sociedade, nos perguntamos: como incentivar os jovens a se tornarem professores? Que atrativo ainda pode haver na profissão? Em termos objetivos, há pouco a dizer. Aparentemente, só nos resta contar com o desejo de muitos jovens de mudar o mundo – ou talvez fosse melhor dizer, de mudar o mundo mudando as pessoas por meio da Educação. Entretanto, contar apenas com o idealismo não basta. Nestes tempos de tantos ataques a direitos e conquistas que deveriam caracterizar uma sociedade civilizada, temos que nos unir e nos organizar. A voz dos verdadeiros educadores precisa ser ouvida, para que a sociedade não continue a ser enganada pelos falsos diagnósticos e falsas “soluções” apresentadas por pseudoespecialistas em educação.

Para os verdadeiros educadores em Química, para aqueles que perseveram na profissão docente, este número de Química Nova na Escola traz contribuições da pesquisa e da vivência em salas de aula vindas de várias partes do Brasil. São trabalhos que exemplificam a riqueza e a variedade de saberes necessários à profissão docente, demonstrando como esta é muito diferente de um “bico”.

O artigo intitulado “Contribuições da sociologia de Bourdieu para repensar a educação e o ensino de ciências” promove importantes reflexões sobre o papel da escola na sociedade, auxiliando o professor a compreender melhor as dificuldades dos alunos e a aperfeiçoar suas estratégias didáticas e avaliações.

A formação de professores de química é abordada, na forma de um estudo de caso, no artigo “O professor formador em foco: identidade e concepções do fazer docente”. Nele são discutidas diferentes dimensões da influência dos docentes do ensino superior sobre a formação dos futuros professores da educação básica. Outra perspectiva da formação de professores – a formação continuada em serviço – é oferecida pelo artigo “Considerações de professores em relação à implantação da Proposta Curricular de Química do Estado de São Paulo”.

Diferentes dimensões do ensino de conceitos químicos também estão presentes nesta edição. A abordagem proposta pelos autores do artigo “Do senso comum à elaboração do conhecimento químico” sugere que a utilização de diferentes dispositivos didáticos, favorecendo as interações entre os alunos, e destes com o(a) professor(a), contribui para a aprendizagem significativa de conceitos científicos. Algumas das dificuldades relacionadas à educação inclusiva, especificamente referentes ao ensino de alunos com deficiência auditiva, e sugestões para superá-las, são apresentadas em “O ensino de química para alunos surdos: o conceito de misturas no ensino de ciências”. Uma proposta para a contextualização do ensino de química orgânica é focalizada no artigo “Temática chás: uma contribuição para o ensino de nomenclatura dos compostos orgânicos”. A contextualização também está presente no artigo “Adaptação metodológica de processos oxidativos avançados (POA’s) na degradação de corantes para aulas de Ensino Médio”, no qual os autores apresentam experimentos com materiais acessíveis e de baixo custo. Finalmente, o artigo “Quitosana: da química básica à bioengenharia” apresenta uma interessante temática que relaciona reaproveitamento de resíduos, engenharia de tecidos e diferentes aplicações de biopolímeros com conceitos básicos de química.

Que a leitura deste número de Química Nova na Escola seja proveitosa a todos!

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Paulo Alves Porto
Salete Linhares Queiroz

Editores

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on-line ISSN 2175-2699
impreso ISSN 0104-8899
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