A tragédia da escola municipal Tasso da Silveira no Rio de  Janeiro é reflexo de uma sociedade que ainda não valoriza a educação.  Publicações do Ministério da Educação, como Escola  que protege: enfrentando a violência contra crianças e adolescentes , relatam  uma grande quantidade de violência praticada contra esses cidadãos que  atravessam fases cruciais na sua formação. Além da exploração econômica e da  violência sexual, nossas crianças e adolescentes também são vítimas de  discriminação, preconceito e agressões físicas e morais. Muitas das  consequências desses atos de violência emergem nas situações escolares, seja  quando o aluno busca apoio da direção para se livrar do agressor ou ainda em  atitudes de indisciplina contra o professor como forma de extravasar seus  sentimentos. É fato também que os professores da educação básica não foram  preparados para lidar com esses problemas. Além disso, as escolas não contam  com o apoio de profissionais das áreas de saúde e segurança, entre outras. Conviver  com esse quadro de desestruturação das condições de trabalho e de violência é  um desafio para os professores brasileiros, que precisa ser superado tanto por  meio da formação específica, quanto pela parceria com outros profissionais.
      Esse é um quadro que não é exclusivo do nosso país. A  violência na escola tem crescido em muitos países como o Reino Unido. Massacres  em escolas como o que ocorreu no Rio de Janeiro já são comuns em países como os  Estados Unidos. Isso demonstra a mudança de valores que estamos vivendo na  sociedade globalizada com elevado padrão de consumo que cada vez mais isola a  pessoa e enaltece o individualismo. Aí está posto outro desafio para a escola  moderna: vencer a violência escolar e mudar seus currículos para desenvolver  valores que possam contribuir para a formação de uma sociedade menos desigual e  mais fraterna.
      Química Nova na Escola é uma revista que desde seu início tem o compromisso de contribuir com a  educação química para a formação da cidadania, de forma a desenvolver valores  de solidariedade, justiça e igualdade. No Ano Internacional da Química, devemos  pensar como transformar essa educação para construir uma sociedade do  conhecimento com base em valores que rompam com os modelos excludentes  vigentes. A paz que buscamos não se consolidará enquanto existirem pessoas com  ódio, ainda que as agências de segurança eliminem os mais terríveis  terroristas. Tratar da violência é, sem dúvida, um desafio para nós, educadores  químicos. Assim, convidamos a comunidade a publicar na seção Espaço Aberto  artigos que reflitam sobre tal questão.
      Neste número, saberemos como aplicativos computacionais,  chamados de Objetos Virtuais de Aprendizagem, são desenvolvidos com o objetivo  de ampliar as possibilidades de representação de modelos atômicos. Para  fomentar essa discussão, os autores nos trazem conceitos sobre visualização,  cibercultura e internet. A poesia de António Gedeão é apresentada como meio  para discutir Ciência, Cultura e Arte na formação inicial de professores de  Química. Entre as conclusões, a autora sugere trabalhar com poesia em  aulas de Química, contribuindo para a formação do licenciando como leitor por  ser mais um gênero textual para representar o mundo. Em tempos do desastre  ocorrido na usina nuclear de Fukushima e do aniversário de 25 anos de  Chernobyl, o artigo O despertar da  radioatividade ao alvorecer do século XX recupera importantes aspectos das  disputas entre cientistas da época e suas percepções sobre risco dos fenômenos  radioativos. Sem dúvida, estudos sobre percepção de risco são importantes para  reconhecermos os limites da Química em lidar com o desenvolvimento de soluções  tecnológicas, sobretudo quando somos confrontados com os supostos avanços da  Ciência e com os evidentes retrocessos ambientais que temos assistido.
      Os Editores