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Química Nova na Escola
Vol. 33 Nº4
Novembro de 2011

Editorial

Temos acompanhado atentamente as mudanças ocorridas na área 46 da CAPES, agora denominada Ensino, mas estabelecida desde 2000 como Ensino de Ciências e Matemática (ECM). A alteração de nome já adianta uma das consequências dessas mudanças, que têm sido implementadas para acolher outros campos de conhecimento ligados ao ensino. O principal argumento para a mudança é ela ser resultado de uma “política nacional de desenvolvimento”, visando impactar os diversos segmentos da sociedade. Entre outras ações dessa política, destaca-se a criação das Diretorias de Educação Básica e de Educação a Distância no âmbito da CAPES. Retratadas nesse contexto, essas ações podem ser vistas como uma “clara perspectiva de impactar na melhoria do ensino no país”, o que confere um sentido específico àquilo que se queira denominar Ensino. No entanto, esse argumento não se sustenta quando analisamos as justificativas expostas no primeiro comunicado da nova área. Quando se pretende transferir as competências desenvolvidas pelos programas de pós-graduação no ECM (PPGECM), dever-se-ia pensar inicialmente em adaptar princípios, critérios e metas da avaliação, estabelecidos na extinta área de ECM, em outros campos da pesquisa em ensino. Esta deveria ser a primeira justificativa, pois é sobre esse conhecimento que a diretoria de avaliação tem competência para arbitrar. Quando se vincula a transferência dessas competências à suposta melhoria do ensino, desconsidera-se um longo caminho entre a pós-graduação e a sala de aula ou mesmo os sistemas de ensino, duas outras formas de atribuir sentido ao Ensino. Seguramente, há um vínculo real entre essas ações da política nacional de desenvolvimento e as mudanças que vêm ocorrendo no âmbito dessa importante agência de avaliação da pós-graduação, mas que não pode ser confundida com a avaliação do ensino, seja este relativo a qualquer campo de conhecimento, à sala de aula ou aos sistemas de ensino, para ampliarmos os sentidos sobre o Ensino. O que parece justificar a iniciativa é a crença de que os mestrados profissionalizantes devem ser priorizados quando as questões de ensino são tratadas dentro da agência. É também fato que a área desenvolveu competência para avaliar PPGECM de mestrados profissionalizantes e, nesse sentido, reunir essas competências poderia ser honestamente defendida como uma justificativa para as mudanças. No entanto, não é tão simples relacionar a presença de mestrados profissionalizantes em uma região geográfica, por exemplo, com a melhoria do ensino. Talvez, por isso, seja mais fácil propor a criação de bancos de dados sobre a produção em ensino, o que concretamente está longe de impactar na melhoria do ensino no país. Há ainda uma segunda crença na exposição de justificativas que antecede a apresentação das metas da nova área: a “necessidade de saber fazer ciência para poder bem ensinar ciência”. Essa assertiva acentua nossa preocupação a respeito dos sentidos que se queira atribuir ao Ensino, principalmente quando se confunde o sujeito pesquisador, com o professor e com o educador, como faz o documento. Nossos pós-graduandos, sejam eles professores da educação básica em mestrados profissionalizantes ou recém-licenciados em mestrados acadêmicos, terão provavelmente melhores condições de formação se forem orientados por quem sabe fazer Ensino de Ciências, o que implica saber fazer pesquisa e, portanto, ciência nos campos específicos do Ensino e não nos campos específicos das ciências. Afinal, se queremos formar especialistas em uma área de conhecimento, devemos atribuir essa formação àqueles que têm competência nessa área. Nesse quesito de formação, não há dúvidas que a área de ECM tem contribuído efetivamente para a melhoria da qualidade de ensino quando relaciona programas de formação inicial ou continuada com pesquisas na área. A pesquisa no campo é um sentido importante que se deve atribuir ao Ensino. Não se pode desconsiderar décadas de pesquisa, centenas de periódicos indexados, linhas editoriais de um campo internacionalmente consolidado, quando se pretende definir as bases de avaliação da produção no campo, muito menos quando se pretende impactar na melhoria do ensino no país. Há muitos avanços reconhecidos nos resultados alcançados pela área de ECM. É urgente rever a condução desse importante processo de mudança nos rumos da Educação em Ciências e Matemática no país, de modo a não se desperdiçar a experiência consolidada na área.

Os Editores

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Sociedade Brasileira de Química © 2011

on-line ISSN 2175-2699
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