Química Nova na Escola continua com seu papel de difundir resultados de pesquisa e contribuições para a melhora da educação química. São as mais variadas temáticas que temos tratado ao longo desses 17 anos de publicação ininterrupta. Na edição passada, lançamos a chamada de artigos para o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, cujo prazo de submissão foi ampliado para 04/06/2012, atendendo à solicitação de muitos autores. Dentre outras temáticas que têm sido abordadas na revista, neste número, voltamos a publicar artigos que relacionam educação química com saúde. A alimentação tem sido tema de indiscutível importância na sociedade, na ciência e mais ainda na escola. Tem-se percebido que deve haver um maior compromisso entre as instâncias de produção de conhecimento, de bens materiais, de valores para que as pessoas tenham acesso à informação confiável sobre a qualidade dos alimentos, seus componentes nutricionais, aditivos, origem e validade para que elas possam decidir por uma dieta balanceada de acordo com suas necessidades. Tal compromisso deve ser ainda mais evidente e indutor na direção de qualificar as dietas, tendo em vista a forte pressão que os meios de comunicação e fundamentalmente a propaganda neles veiculadas têm exercido sobre a população. Dados do IBGE de 2009 indicam que mais de 90% da população brasileira consomem menos que a quantidade mínima recomendada de frutas, legumes e verduras. Na contramão, bebidas com adição de açúcar, como refrigerantes, têm consumo elevado entre jovens que também têm privilegiado a ingestão de embutidos, frituras, biscoitos e sanduíches em detrimento do tradicional e nutritivo arroz com feijão e “mistura”. Esta deixou de ser variada e complementar para se transformar em sinônimo de comida rápida e misturada. Observou-se que a ingestão de alimentos com altas taxas de gordura e açúcar, como sanduíches e refrigerantes, ocorre, sobretudo, fora do domicílio e certamente deve haver correlação com o aumento da obesidade da população. É fato que os hábitos alimentares estão diretamente relacionados à sensação de prazer de degustar os alimentos, mas esses hábitos se formam na experiência de vida das pessoas, em suas situações de trabalho, estudo, lazer e fruição. Ou seja, a preferência por essa ou aquela forma de consumir o alimento é resultado das influências culturais e das idiossincrasias das pessoas, que se (in)compatibilizam com as possibilidades oferecidas para o consumo. Jovens que sejam sistematicamente expostos a alimentos industrializados com excesso de açúcar, gordura e aditivos tendem a preferi-los ainda que tenham crescido à base de culinárias tradicionais. Mais forte do que os conselhos dos pais para tomar a refeição à mesa com a família ou os argumentos dos professores em favor do consumo de alimentos saudáveis e nutritivos, as pressões sobre crianças e jovens pelo consumo de alimentos rápidos em locais e tempos desconexos têm prevalecido e contribuído para agravar o quadro alimentar destes que atravessam importantes fases de desenvolvimento. A conscientização dos indivíduos não é a única solução para essa situação. Certamente pais e professores devem continuar a trabalhar pela conscientização de seus filhos e alunos, mas é preciso que haja um pacto social sobre práticas de alimentação saudável, assim como já existem outros sobre a redução do consumo de bebidas alcoólicas e de cigarros. Doses diárias de frutas, verduras e legumes deveriam ser propagandeadas na mesma proporção em que se deve desestimular o consumo excessivo de açúcar, sal, gordura e aditivos na forma de alimentos enlatados. A melhora do quadro alimentar da população brasileira passa pela consciência social de governos, indústrias e meios de comunicação, e não apenas por aquilo que a educação familiar e escolar possa contribuir para a causa. No sentido de refletir sobre essas questões, Química Nova na Escola publica neste número textos sobre educação alimentar, alcoolismo e Educação Química. Abordados com estilos próprios, esses textos estabelecem um importante diálogo sobre questões filosóficas, éticas, históricas, culturais, fisiológicas, bioquímicas, químicas, que certamente trarão motivos para reflexão entre os professores e possivelmente entre alunos também. Temos aqui dois artigos que podem vir a ser utilizados por professores de química ou ciências em geral com seus alunos. Para tal, é preciso que eles passem por um processo de recontextualização para a sala de aula, pois foram concebidos para as audiências dos professores e seus programas de formação. Iniciemos, pela ordem, com o debate entre aqueles que o fazem com responsabilidade e ética, mas não são reconhecidos pelo progresso social que trazem à sociedade.
Os Editores