Em janeiro, fez um ano que foi publicada Resolução do Conselho Nacional de Educação que define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), substituindo documento anterior de 1998. O documento atualiza orientações para o Ensino Médio, estabelecendo, dentre outros dispositivos, que o currículo será organizado por áreas do conhecimento, como já estava previsto nas DCNEM, sendo que agora são previstas quatro áreas. Matemática passa a constituir uma nova área, quando antes, estava integrada à de Ciências da Natureza. Sobre a organização do Ensino Médio por áreas, o novo documento estabelece que “a organização por áreas de conhecimento não dilui nem exclui componentes curriculares com especificidades e saberes próprios construídos e sistematizados, mas implica no fortalecimento das relações entre eles e a sua contextualização para apreensão e intervenção na realidade, requerendo planejamento e execução conjugados e cooperativos dos seus professores (Art. 8º, § 2º).
A redação do dispositivo acima evidencia que qualquer proposta de reforma do ensino médio que venha a excluir disciplinas específicas já consagradas no currículo vai de encontro à determinação legal. Contudo, ocorre que, no segundo semestre do ano passado, o Ministério da Educação divulgou notícia de reforma do ensino médio, prevendo um ensino integrado por áreas, inclusive com a adoção de material didático organizado por área e não por disciplina.
O teor da notícia difundida explicitava a ideia de que a nova organização do Ensino Médio não seria mais por disciplina, o que, se assim o fosse, contrariaria o dispositivo legal acima explicitado. A reação da sociedade científica foi imediata. A Sociedade Brasileira de Química e a Sociedade Brasileira de Física enviaram, em separado, cartas ao Ministro da Educação manifestando preocupação com uma possível reforma que excluísse as disciplinas de ciências do currículo do ensino médio. A diretoria da Divisão de Ensino de Química também enviou carta levantando reflexões em torno da questão e pontos importantes a serem contemplados na reforma do ensino médio. O Jornal da Ciência da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência publicou matérias apresentando opiniões de diversos cientistas contrários a uma possível exclusão de disciplinas específicas. Em umas dessas matérias do Jornal da Ciência, o Secretário de Educação Básica do MEC manifesta discordância de que a intenção da reforma seja eliminar ou integrar qualquer disciplina, esclarecendo que o que se propõe é a criação de ambientes para viabilizar a articulação entre as diferentes disciplinas.
A polêmica está posta! De qualquer maneira, está patente de que não será admissível qualquer proposta de exclusão de disciplina consolidada. Por outro lado, a posição dos pesquisadores em Educação Química, expressa na carta da Divisão de Ensino de Química, é em defesa de que o planejamento pedagógico dentro de cada disciplina de Química, Física e Biologia seja na “perspectiva mais interdisciplinar e não com uma visão fragmentada em disciplinas que não dialogam entre si”.
Essa é a visão de Química Nova na Escola que, em todos os seus números, apresenta artigos que tratam da especificidade do conhecimento químico e que tratam de possibilidades do diálogo da disciplina Química com as demais. Essa visão está claramente posta no artigo “A cana-de-açúcar no Brasil sob um olhar químico e histórico: uma intervenção interdisciplinar”, o qual trata de uma experiência do Programa PIBID. O artigo “Lavagem a seco” apresenta contribuições do conhecimento químico que possibilita uma contextualização para compreensão crítica do cotidiano, com práticas que respeitem o ambiente.
A capa da revista reflete a preocupação da Química Nova na Escola com a temática ambiental que sempre é vista como tema articulador do conhecimento químico com a formação para a cidadania comprometida com questões socioambientais. Essa é a perspectiva do artigo “Explicitação do conhecimento discente acerca de temas ambientais: reflexões para o ensino de Ciências da Natureza”.
Além desses, outros artigos também exploram o conhecimento químico: “Avaliação dos estudantes sobre o uso de imagens como recurso auxiliar no ensino de conceitos químico”; “Atividades experimentais simples para o entendimento de conceitos de cinética enzimática”; “Análise qualitativa de proteínas em alimentos por meio de reação de complexação do íon cúprico”, “Efeito crioscópico” e os artigos dos elementos químicos nióbio e bromo. Essas temáticas são exploradas na busca da inovação, como trata o artigo “Inovação na área de Educação Química”.
Em síntese, as temáticas dos artigos deste número expressam nossa visão de que o diálogo e a articulação dos saberes jamais devem implicar na exclusão da Química do currículo escolar. Também consideramos importante tratar de outras questões relacionadas à organização do Ensino Médio, como a baixa carga horária, quando comparado do Ensino Fundamental, ou a fragmentação curricular de Ciências do 9o Ano, uma espécie de “resumão” dos conhecimentos escolares de Química e Física. Há diversas outras questões que temos endereçado em nossos Editoriais que esperamos possam contemplar a pauta das audiências públicas agendadas para o início de 2013. E afinal, que 2013 seja o melhor ano para a Educação antes da Copa.
Os Editores