Os desdobramentos da chamada Nova República trouxeram ares de renova- ção das instituições, sobretudo aquelas mais fortemente subjugadas por atitudes coercivas da ditadura. De outra parte, o afã da liberdade foi acompanhado por um descontrole sobre os preços e a capacidade produtiva do país, o que nos afundou em um processo inflacionário recessivo e, posteriormente, em uma aventura política econômica conhecida como plano Collor. Em meio a esse cenário, foram constituídos diversos grupos de interesse em torno das questões da educação, como aqueles que gestaram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, e em particular, no âmbito da Divisão de Ensino da Sociedade Brasileira de Química, vimos circular o primeiro periódico dedicado à Educação em Química e dirigido a professores da Educação Básica. Há exatos 15 anos, Química Nova na Escola circulava pela primeira vez em um momento de transição importante para a vida no país, deixando marcas impor- tantes para a formação de professores de Química. De lá para cá, muitas iniciativas importantes foram desencadeadas pelo Mi- nistério, secretarias de educação, universidades e sociedade civil organizada no sentido de revitalizar e fortalecer a educação brasileira. Química Nova na Escola soube divulgar projetos, experiências, reflexões e tornou-se referência não apenas na Educação em Química, mas também na Educação em Ciências, área que conheceu um expressivo aumento dos números de programas de pós-graduação, grupos de pesquisa e periódicos. O fato de os artigos publicados em Química Nova na Escola nos permitirem refletir sobre diversos temas que pautam a agenda da Educação em Química e Ciências é prova da relevância desse projeto pioneiro da Divisão de Ensino. Ao refletirmos particularmente sobre o processo editorial, julgamos importante, neste momento, ampliar a discussão sobre a formação de professores de Química e Ciências. Para esse debate, é importante considerar as deliberações da Conferência Nacional de Educação (CONAE), sobretudo aquelas atinentes ao eixo Formação e Valorização dos Profissionais da Educação. Estamos de acordo com a necessidade de “superar a dicotomia entre a formação pedagógica stricto sensu e a formação no conhecimento específico”, sobretudo no que diz respeito à organização cur- ricular, mas também da forma como o ingresso dos formadores de professores vem ocorrendo nas instituições de ensino superior públicas. Nesse sentido, temos acompanhado com atenção os editais de concursos para ingresso nas áreas de Educação em Química e Ciências que, em muitas oportunidades, trazem tópicos não condizentes com o conjunto de conhecimentos dessas áreas, sobrevalorizando assuntos específicos de outras áreas de conhecimento. Superar dicotomias, nesse caso, significa reconhecer as especificidades de formação do professor, não apenas nos currículos de licenciatura, mas também na atuação docente daqueles responsáveis pela formação desse professor. Portanto, há de se balizar os temas de provas e as áreas de atuação dos concursos de ingresso para a área de Educação em Química/Ciências em função da efetiva atuação dos docentes formadores. É pela coerência entre a formação e o lócus de atuação que construiremos meios para superar a dicotomia apontada no documento de referên- cia da CONAE. Estamos convictos que o fortalecimento dessa área somente será completo se for acompanhado pela disseminação dos grupos de pesquisa por todos os espaços onde houver docência e pesquisa voltadas às questões de ensino. Neste número, destacamos artigos sobre questões de alimentação e suas reper- cussões na história da Química. Em Especiarias e sua importância na alimentação humana, saberemos mais sobre o comércio, os hábitos alimentares das populações europeia e americana à época das grandes navegações. A produção de açúcar e aguardente também é tema do artigo Cana de mel, sabor de fel que contextualiza esse modo de produção na longínqua Capitania Hereditária de Pernambuco, onde o autor busca elementos para discutir possíveis relações entre diferentes disciplinas escolares. Contexto e relações disciplinares também é o foco de Perícia criminal e a interdisciplinaridade no ensino de Ciências Naturais, no qual podemos aprender sobre aplicações de reações químicas sensíveis e seletivas que são aplicadas na detecção de uma grande variedade de substâncias e materiais. Outros temas deste número dizem respeito a gordura trans, ensino experimental, educação ambiental, nanotecnologia, sobre os quais há muito que se discutir e pensar na Educação em Química.
Editores e Editor Associado