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Química Nova na Escola
Vol. 17
Maio de 2003

Editorial

Neste número de Química Nova na Escola nos somamos às comemo- rações dos 50 anos do artigo em que Watson e Crick propuseram a estrutura de dupla hélice para a molécula do DNA. Em apenas 50 anos, a genética permitiu à humanidade percorrer caminhos nunca dantes pen- sados. A clonagem de Dolly, na segunda metade dos anos 1990, simboliza esse avanço e os impasses éticos que ele acarreta para a ciência em particular e para a sociedade como um todo. A Química, com qualquer ramo das Ciências da Natureza, vive os mes- mos tipos de problemas éticos. Como controlar o poder que uma ciência confere aos homens (e aqui preferimos usar apenas o gênero masculino, pois quase sempre são os homens e não as mulheres os responsáveis pela guerra e pela destruição)? A sociedade conseguirá controlar todo esse poder que a Ciência confere aos governantes? A recente guerra do Iraque, por meio da qual Estados Unidos e Grã-Bretanha esvaziaram o poder que a ONU tinha na resolução de conflitos (ao decidirem ir à guerra independentemente de uma resolução daquele organismo), colocou em evidência as armas químicas e biológicas, usadas como pretexto para a guerra mas até o momento não encontradas. Atualmente, qualquer ciência possibilita aos poderosos a construção de aparatos que ameaçam popu- lações inteiras. A alta tecnologia de guerra mostrada pela televisão apro- ximou a guerra do Iraque a um jogo de vídeo-game, com a grave diferença de que milhares de vidas humanas, de civis inocentes, foram ceifadas nessa exibição de poderio tecnológico. Felizmente o alarme de uma guerra química e biológica era falso e não assistimos aos mesmos horrores dos ataques com agentes químicos, como aqueles que tornaram o napalm e os agentes desfolhantes armas tristemente célebres na guerra do Vietnã. No entanto, a Química também está por trás desse poderio, ao fornecer as chaves para a obtenção de explosivos, de materiais apropriados para os aparatos bélicos como tanques e aeronaves, dos materiais para a fabri- cação de máscaras anti-gases e para descontaminação, etc. Acreditamos que a educação em geral e particularmente aquela que se faz por meio do ensino das Ciências Naturais, pode ter um papel impor- tante na conscientização da população para o poder da Ciência e de como seu uso depende basicamente de decisões políticas nas quais a sociedade pode intervir. Os noticiários sobre a guerra quase conseguiram esconder o triste desastre do rompimento de uma barragem de resíduos numa fábrica de celulose em Minas Gerais, que contaminou as águas do Rio Paraíba e deixou sem água potável populações de cidades inteiras. No Brasil também se travam guerras, e a sociedade precisa aprender a controlar as ameaças ambientais que as empresas preservam com segredos de sete chaves. Ao ensinar os estudantes não somente a Química, mas suas relações com a sociedade, o ambiente e a tecnologia, na expectativa de formar cidadãos críticos e participativos, podemos contribuir para que o Brasil continue no seu caminho pacífico e nunca entre nessa corrida louca pelo poderio bélico que só leva à destruição. Mas para que também mude em relação à desigualdade social, ao descaso ambiental e à irresponsabilidade dos poderosos. Que a nação brasileira continue unânime contra a guerra e que a Química, em nosso país, seja usada apenas para o bem-estar da sociedade. E que esse bem-estar possa ser usufruído por todos aqueles que hoje se encontram marginalizados de qualquer benefício. Essas são nossas esperanças, que compartilhamos com todo o povo nesses novos tempos que se iniciam para o Brasil.
Editores e Conselho Editorial

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