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Química Nova na Escola
Vol. 08
Novembro de 1998

Editorial

Este oitavo número de Química Nova na Escola chega às mãos das leitoras e dos leitores em um momento dramático para a ciência e a educação no Brasil. A construção da cidadania tem sido ameaçada insanamente, nos últimos meses, de uma maneira sem precedentes. Este número da revista só circula porque temos aprendido a superar crises, mas nossa capacidade de resistência tem limites. Até dezembro de 1997, a comunidade envolvida com a educação científica contava com o apoio do SPEC — Subprograma Educação para a Ciência —, vinculado ao Programa de Apoio e Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT). Mediante um projeto ao SPEC, a Divisão de Ensino da SBQ pôde auxiliar os eventos nacionais, regionais e estaduais, bem como editar os seis primeiros números de Química Nova na Escola. Ao SPEC pode-se creditar a criação de centros de excelência, o aumento do número de pós-graduados e a produção de materiais didáticos e projetos de ensino inovadores na área de ensino de ciências. Em dezembro de 1997, o SPEC foi extinto com o argumento de que suas ações não eram significativas ante as exigências nacionais do ensino de ciências. Alguns colegas, inclusive, apoiaram o fim do SPEC, talvez por estarem distantes da área e não avaliarem seu significado para a educação em ciências no país. Para realizar este número 8, fizemos contatos exclusivamente pela Internet, como forma de diminuir os custos da revista. A extinção do SPEC não compromete apenas a realização dos encontros sobre ensino de química, alguns com quase duas décadas de realizações, mas, sobretudo, a própria circulação de Química Nova na Escola. Mesmo com todas as dificuldades, vislumbrávamos uma alternativa: apresentar um projeto às agências de fomento. Recebemos, então, o golpe fatal. Imediatamente após o dia do professor deste ano de 1998, o presidente do CNPq, por um ato unilateral de uma portaria (328/98), decidiu, na prática, encerrar as atividades da agência. Além dos efeitos concretos que tal medida acarretará, há um caráter simbólico muito importante: não há recursos para nenhum novo projeto. Ante essa situação, a comunidade científica brasileira e aqueles que compreendem a importância da educação, da ciência e da tecnologia para o desenvolvimento e a soberania do país, não podem calar-se. Química Nova na Escola associa-se aos esforços das diferentes sociedades científicas do Brasil para denunciar não apenas à comunidade científica, mas à Nação: decretou-se o colapso da ciência e da educação brasileira. Foram cortadas desde a merenda escolar até as bolsas de estudo. Não desconhecemos o pesado ônus que os países desenvolvidos impõem às nações mais pobres e, quanto a estas, parece que a única maneira de subsistir é adotar o modelo imposto pelo neoliberalismo. Contudo, não admitimos a responsabilidade de assumirmos o ônus do desastre de uma política econômica de cuja construção e operação sempre estivemos afastados. Estamos convencidos de que é preciso buscar outras alternativas, indo na contramão daquilo que nos é imposto. Ao lado do que relatamos, a crise do número de assinantes nos atingiu. Chegamos a ter quase três mil assinaturas. Hoje estamos em torno dos 1800. É doloroso receber cartas de colegas de diferentes pontos do Brasil, elogiando a revista, mas falando da impossibilidade de continuar pagando 12 reais pela renovação da assinatura, tal a miserabilidade a que foram reduzidos os salários impostos ao magistério. Nosso protesto nasce, em primeiro lugar, da necessidade imperiosa de defender a continuidade do apoio público a revistas como a nossa, capazes de contribuir para a alfabetização científica de homens e mulheres que ambicionam a uma cidadania mais crítica e participativa. Queremos continuar a existir. Por isso, necessitamos aumentar o número de assinantes de Química Nova na Escola. Precisamos, também, nos unir à Sociedade Brasileira de Química e àquelas e àqueles que bradam não à destruição daquilo que se tem construído nos últimos anos em termos de ciência e educação. Resistir é preciso.
Editor, Editoras e Editores Associados

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impreso ISSN 0104-8899
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