Sancionada a Reforma do Ensino Médio
A sanção da Reforma do Ensino Médio, no início de fevereiro, gerará mudanças que afetarão a sociedade brasileira e, de forma ainda mais contundente, muitos dos nossos leitores, envolvidos diretamente no processo educativo. Assim, neste primeiro número do ano de 2017 da revista Química Nova na Escola, é relevante apontar aspectos norteadores da referida Reforma, que demandam reflexão por parte de cada um de nós. A flexibilização do currículo, o aumento da carga horária e a ampliação do número de escolas de tempo integral ocupam posição de destaque, juntamente com o reconhecimento de profissionais com notório saber como aptos a ministrar conteúdos no Ensino Médio. Seguramente, são aspectos não consensuais e alguns extremamente polêmicos na perspectiva da comunidade de educadores químicos. Isso nos impõe o desafio de acompanhar atentamente os desdobramentos da Reforma e das propostas que serão lançadas visando a sua efetivação, de modo a compreendermos que impactos terão sobre a educação nacional. O nosso posicionamento crítico frente a elas se constitui em recurso fundamental para o alcance do ensino de ótima qualidade que almejamos para todos os cidadãos brasileiros. Posicionamento este que precisa estar ancorado em nossas experiências e conhecimentos inerentes ao assunto.
Na intenção de contribuir para o enriquecimento desse cabedal de conhecimentos que nos habilita a assumir uma postura crítica frente às turbulências da realidade que nos cerca, o atual número da revista está recheado com assuntos que contemplam metodologias inovadoras de ensino, a formação de professores e a história da química. Atenção especial é dedicada às oficinas temáticas no âmbito do ensino de química. De fato, três artigos reúnem elementos que viabilizam o entendimento sobre o seu funcionamento e destacam suas potenciais contribuições para a formação dos estudantes. No primeiro deles, “A utilização de uma oficina de ensino no processo formativo de alunos de ensino médio e de licenciandos”, foi abordado o tema produtos naturais. As plantas medicinais foram alvo de estudo no segundo artigo, conforme indica o título “Plantas Medicinais: oficina temática para o ensino de grupos funcionais”, e os combustíveis delinearam as ações descritas no terceiro: “Combustíveis: uma abordagem problematizadora para o ensino de química”.
A leitura do conjunto de textos sobre as oficinas temáticas evidencia ainda as contribuições das pesquisas para o aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem, uma vez que todos eles encontram inspiração e subsídios teóricos em trabalho publicado, em 2008, por Maria Eunice Ribeiro Marcondes na revista Em Extensão. Este se vincula estreitamente a dissertações e teses originárias do Grupo de Pesquisa em Educação Química (GEPEQ), da Universidade de São Paulo, por ela liderado.
A preocupação com o tratamento de temas que viabilizam o estudo dos conteúdos de química de forma contextualizada e relacionada com o dia a dia dos estudantes também permeia as propostas descritas no artigo “A Química na Odontologia”. Reações químicas que podem ser exploradas a partir de materiais de fácil aquisição utilizados na prática odontológica são discutidas, assim como a relação entre a química e os problemas de saúde bucal, o processamento radiográfico odontológico, os anestésicos e os materiais restauradores. A questão da experimentação no ensino de química está presente neste número, no contexto da construção e avaliação de dispositivo para determinação de material particulado em ambientes internos e externos. Em contraponto, temas que ainda são pouco explorados também encontram espaço nos artigos “Tem dendê, tem axé, tem química: sobre história e cultura africana e afro-brasileira no ensino de química” e “Motivação dos alunos: reflexões sobre o perfil motivacional e a percepção dos professores”.
A formação leitora dos estudantes, por sua vez, está novamente em pauta no artigo “Monteiro Lobato e Paulo Freire: problematizando O Poço do Visconde”. Na seção Cadernos de Pesquisa, portanto, é possível recordar a infância, enquanto o potencial pedagógico do livro para o ensino de química é deslindado.
Desejamos a todos uma ótima leitura!
.
Paulo Alves Porto
Salete Linhares Queiroz