O XIX ENEQ irá fazer história
O XIX Encontro Nacional de Ensino de Química (ENEQ) irá ocorrer de 16 a 19 de julho de 2018 na Universidade Federal do Acre (UFAC), em Rio Branco. O evento deste ano é promovido conjuntamente pela UFAC, pelo Instituto Federal do Acre (IFAC) e pela Secretaria Estadual de Educação (SEE). Esse encontro se reveste de importância histórica por diversos motivos - dentre eles, o fato de que o ENEQ irá se realizar pela primeira vez na Região Norte do país. Este fato revela não apenas a disseminação da pesquisa em ensino de química por todo o território nacional, mas também se tornou possível em consequência da expansão da rede pública de ensino superior ao longo da primeira e até meados da segunda década do presente século – crescimento que, nos dias atuais, não somente foi interrompido, mas convive com seríssimas ameaças de retrocesso.
Como tem ocorrido a cada dois anos, desde 1982, pesquisadores e professores – enfim, educadores em química – irão se encontrar para compartilhar experiências e debater as grandes questões da área. O momento atual mostra a necessidade de integração e união da comunidade de educadores químicos. Sucessivos ataques à liberdade de ensino e aprendizagem; operações policiais espetaculares, repercutidas pela mídia com o objetivo de conspurcar a imagem das Universidades junto à opinião pública; congelamento de verbas para educação; reforma do Ensino Médio na qual subjazem interesses inconfessáveis; precarização do trabalho dos professores, como consequência da reforma trabalhista – são alguns dos motivos que conclamam a reunião de todos os educadores em torno de objetivos comuns. No que tange ao ensino de ciências, é preciso que a voz de educadores qualificados em anos de dedicação à docência e à pesquisa se faça ouvir. O XIX ENEQ será uma grande oportunidade para o congraçamento e a organização dos educadores em química do Brasil, em defesa de ideias que merecem ser defendidas.
Enquanto o ENEQ não chega, apresentamos mais um número de Química Nova na Escola. Esta edição traz diversos exemplos que mostram como o ensino de química pode ser articulado com outras áreas do conhecimento, como a arte e, especialmente, a história, de modo a torná-lo mais significativo para os alunos e contribuir para a construção da cidadania crítica. Em “Arte na educação para as relações étnico-raciais: um diálogo com o ensino de química”, os autores sugerem a utilização de uma música e de uma pintura para motivar discussões a respeito de preconceito racial e do papel do negro na sociedade brasileira – buscando, ao mesmo tempo, estabelecer relações com conceitos de química que contribuam para o entendimento das questões envolvidas, como a pigmentação da pele humana e as propriedades do café que o levaram a ser cultivado em larga escala com mão de obra escrava no Brasil. No artigo “Análise do uso da analogia com o ‘pudim de passas’ guiado pelo TWA no ensino do modelo atômico de Thomson”, o modelo de ensino com analogias é utilizado para investigar a aprendizagem da versão disseminada em materiais didáticos para o que seria o modelo atômico de Thomson. Um aspecto diferente da história está presente no artigo “Destilação: uma sequência didática baseada na História da Ciência”, no qual é apresentada uma proposta para o ensino dessa técnica de separação muito utilizada em diferentes contextos. Esse conjunto de artigos mostra a riqueza de possibilidades para a aproximação entre a história da ciência e o ensino de química, uma interface na qual ainda há muito a ser explorado. O aproveitamento dessas possibilidades deverá passar cada vez mais pela apropriação de referenciais teóricos, especialmente de natureza historiográfica, por parte dos educadores em química.
Além da arte e da história, interfaces da química com aspectos políticos e ambientais são investigadas em diferentes artigos. Em “Efeito estufa e camada de ozônio sob a perspectiva da interação radiação-matéria, e uma abordagem dos acordos internacionais sobre o clima”, os autores sugerem formas de apresentar conteúdos de química de forma a contribuir para a compreensão de temas muito debatidos por suas implicações para a sociedade. Os dois artigos que constam da seção Experimentos no Ensino de Química descrevem práticas que podem ser utilizadas na discussão de questões ambientais. No caso de “Obtenção de celulose e produção de papel branqueado a partir do capim Brachiaria”, diversas implicações da produção de papel para o ambiente podem ser colocadas em discussão tendo como referência o experimento proposto. O artigo “Revisitando o experimento de viscosidade intrínseca de Shoemaker e Garland: uma abordagem ambiental”, por sua vez, mostra a construção de um minhocário e sua utilização para a biodegradação de um polímero por vermicompostagem – sugerindo possibilidades para o manejo de resíduos sólidos urbanos.
Diferentes formas de aproximar os conteúdos de química da realidade e dos interesses dos alunos também estão presentes nesta edição. A abordagem lúdica é examinada em “O jogo educativo como recurso interdisciplinar no ensino de química”, enquanto o potencial didático das histórias em quadrinhos é investigado no artigo “O envolvimento dos estudantes em aulas de ciências por meio da linguagem narrativa das histórias em quadrinhos”, apresentado na seção Cadernos de Pesquisa, que fecha o presente número de QNEsc.
Renovamos o convite para que todos os leitores de Química Nova na Escola estejam presentes no XIX ENEQ em Rio Branco, AC. Aos que não puderem comparecer, convidamos a estar atentos aos resultados desse Encontro histórico, e a participar dos debates que ali se vão desenvolver.
Paulo Alves Porto
Salete Linhares Queiroz
Editores de QNEsc