Voltar à Coleção Completa | Voltar ao QNEsc Vol. 40 No1 | Ir ao Volume Anterior | Ir ao Próximo Volume

Química Nova na Escola
Vol. 40 No1
Fevereiro de 2018

Editorial

Protestos e incertezas marcam o início de 2018 no Brasil

 

Para onde quer que se olhe, no início deste ano, quando o assunto é a gestão da coisa pública, esbarramos em protestos. Estes ganharam vulto e vieram embrulhados em cores e formas exuberantes no Sambódromo da Avenida Marquês de Sapucaí, na capital carioca. Durante o carnaval, o povo, por meio da música e da dança, extravasa sentimentos, e foram sentimentos de rancor, pesar e revolta que estiveram expressos em muitas alas. A violência do dia a dia no Rio de Janeiro, onde 44 crianças morreram vítimas de balas perdidas desde 2007, segundo a ONG Rio de Paz, foi encenada na passarela em diferentes nuances. Associada a ela estiveram a precariedade nas condições de trabalho e o trabalho escravo propriamente dito, que desafortunadamente ainda encontra espaço no nosso maltratado país. Retratar mazelas nacionais como a desigualdade social, a manipulação da opinião pública por interesses contrários aos da maioria, o sucateamento da saúde pública, o uso indevido de impostos e a ganância de agentes públicos foi tarefa assumida e levada a cabo com propriedade e brilhantismo por Escolas de Samba renomadas. No início do ano também se escancarou a desfaçatez de juízes que defenderam a atribuição do chamado “auxílio moradia” a si próprios, que lhes permite receber acima do teto constitucional. Que garantia podem ter os cidadãos de que os juízes tomam suas decisões com base nas leis, e não conforme seus interesses pessoais, se são capazes de arrogarem a si privilégios destinados a burlar normas constitucionais? Concluído o que para muitos se traduz no “maior espetáculo da terra”, ecoa ainda mais fortemente a pergunta: como nos livrarmos de um Brasil mergulhado em profunda crise ética e moral, em um período no qual uma sucessão de escândalos conduz ao completo descrédito da classe dirigente?

Iniciamos 2018 não somente com protestos, mas também com muitas incertezas, dentre elas a de natureza eleitoral. A condenação em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dá margem a cenários de turbulência, com várias candidaturas nas eleições presidenciais e com votação pulverizada. Nesse contexto, até mesmo a presença no segundo turno de candidato que incita a prática do estupro não está descartada. São tempos de muitas dificuldades a enfrentar, quando, além da busca de avanços, é também
crucial impedir retrocessos como os assistidos recentemente, com severos cortes de verbas promovidos pelo governo federal nas áreas de educação, saúde, segurança e ciência e tecnologia – em nome de pagar juros aos donos do capital financeiro.

Diante de tantas incógnitas, seguimos na nossa jornada de educadores. Os textos que compõem este número da QNEsc estão alinhados com tendências de transformação que permeiam a educação em ciências na atualidade, algumas delas dispostas em documentos curriculares oficiais. O destaque é para a inclusão da perspectiva histórica no ensino de química. Essa tendência, presente em três artigos, aponta para a necessidade de o ensino propiciar aos alunos o entendimento da ciência como uma construção social, suscetível a controvérsias e conflitos, comuns a qualquer atividade social. O primeiro deles (Discutindo o contexto das definições de ácido e base) aborda definições de ácido e base no contexto em que foram elaboradas por Arrhenius, Brønsted-Lowry e Lewis. O segundo (Uma história do antiatomismo: possibilidades para o ensino de química) chama a atenção para o papel das controvérsias científicas, a partir da apresentação de uma narrativa de cunho didático a respeito do antiatomismo. O terceiro (O ensino de equilíbrio químico a partir dos trabalhos do cientista alemão Fritz Haber na síntese da amônia e no programa de armas químicas durante a Primeira Guerra Mundial) relata a aplicação de uma sequência didática que visou à promoção de reflexões sobre aspectos sociais, políticos e econômicos da prática científica e foi pautada no uso de recursos variados como vídeos, listas de exercício e artigos publicados na QNEsc.

Aspectos atinentes às relações que se estabelecem entre identidade docente e o desenvolvimento do estágio nos cursos de licenciatura são investigadas no artigo Práxis e identidade docente: entrelaces no contexto da formação pela pesquisa na licenciatura em química. Para tanto, foram analisados 18 projetos pedagógicos de cursos de licenciatura em química, tendo como foco a construção da identidade docente na perspectiva da pesquisa. Os resultados indicaram que na maioria deles não se observa a pesquisa como eixo formativo.

Propostas de ensino que propiciam a abordagem de questões científicas e sociocientificas são encontradas nas seções “Relatos de Sala de Aula” e “Experimentação no Ensino de Química”. Nessa perspectiva, para trabalhar o conteúdo de funções orgânicas é sugerida a realização de atividade lúdica que consiste na adaptação do Jogo Perfil®, no artigo Pistas orgânicas: um jogo para o processo de ensino e aprendizagem da química. Em diferentes perspectivas, experimentos que favorecem a abordagem do problema de descarte descontrolado de filmes plásticos de polímeros, oriundos de petróleo, assim como da recomendação de dietas com indicações para a retirada do glúten da alimentação humana são sugeridos nos artigos: Desenvolvimento e caracterização de filmes biodegradáveis obtidos a partir de amido de milho: uma proposta experimental de produção de biofilmes em sala de aula e O glúten em questão.

 

Ótima leitura a todos!

 

Paulo Alves Porto
Salete Linhares Queiroz

Editores

Sociedade Brasileira de Química © 2024

Voltar à Coleção Completa | Voltar ao QNEsc Vol. 40 No1 | Ir ao Volume Anterior | Ir ao Próximo Volume

on-line ISSN 2175-2699
impreso ISSN 0104-8899
Apoio a Projetos
CNPq
Desenvolvido por EKMF.