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Química Nova na Escola
Vol. 42 No2
Maio de 2020

Editorial

Pandemia

 

Estamos vivendo o maior desafio de nossa geração. A história registrará o ano de 2020 como o da pandemia de covid-19, e as gerações futuras terão dificuldade para entender o que está acontecendo no Brasil de hoje. Ou – quem sabe? – no futuro tudo ficará muito claro. 

De repente, há cientistas sendo entrevistados em TVs, rádios e redes sociais. Há um renovado interesse no que a ciência tem a dizer sobre a doença, sua prevenção e sua cura. Sobre os cientistas se depositam as esperanças de milhares, milhões de seres humanos de que logo haverá vacinas ou remédios que possam deter a pandemia e evitar mais mortes. No Brasil, a maior parte dos cientistas se encontra nas Universidades e outras instituições públicas de pesquisa. Nelas, assistimos a um grande esforço para resistir à pandemia. Vemos nossos colegas químicos participando desses esforços de muitas maneiras: por exemplo, produzindo álcool em gel para hospitais, produzindo insumos para as pesquisas biomédicas, compartilhando equipamentos, reagentes e mão de obra qualificada, divulgando informações, etc. Poderíamos fazer mais, se nossas instituições públicas de ensino e pesquisa não estivessem sofrendo tantos cortes de verbas e bolsas, ou se não houvessem sido transformadas em inimigas da nação, por supostamente serem antros de “balbúrdia”, locais de “plantações extensivas de maconha” e de produção de “drogas sintéticas” em seus laboratórios de Química.

Enquanto não existe vacina ou remédio eficaz, cientistas e médicos recomendam prudência: evitar o contágio pelo isolamento social. Muitos, porém, revoltam-se contra a prudência, contra a medicina, contra a ciência: clamam pela volta ao trabalho, pela volta a uma ilusória normalidade. Alguns o fazem pela ganância, acreditando que a paralisação da economia se deve ao isolamento social e não à pandemia. Outros o fazem por desconhecer o que está em jogo, ou por estarem iludidos por mentiras (hoje pomposamente chamadas de fake news) espalhadas pelas redes sociais. Como resultado da desinformação, no momento em que escrevemos este Editorial, a covid-19 se alastra quase sem controle por grande parte do território brasileiro. O noticiário da mídia comercial se divide entre a pandemia e uma permanente crise política, com personagens se digladiando com acusações de corrupção e traição, e diferentes instituições da República disputando espaços de poder. Entre mentiras e disputas pessoais, não se discute, porém, a causa fundamental de um sistema educacional que não consegue reverter a ignorância sistêmica, da miséria que impede o isolamento social e favorece o contágio descontrolado, do subfinanciamento dos sistemas públicos de saúde e de pesquisa que poderiam poupar muitas vidas: o modelo econômico que concentra cada vez mais a riqueza nas mãos de uns poucos (indivíduos e países), aprofundando o abismo social tão evidente no Brasil, mas que vem se alastrando pelo mundo. Assoberbados por suas consequências, deixamos de enxergar a causa. A superação deste momento terrível exigirá muito de cada um de nós.  

Diante de tudo isso, pode parecer fútil nosso esforço em apresentar resultados de pesquisas e experiências para a melhoria do Ensino de Química. Não podemos, porém, desanimar nem perder de vista a importância de cada pequena contribuição da pesquisa e da educação para a disseminação do pensamento crítico, tão necessário neste momento. Nesse sentido, Química Nova na Escola prossegue em sua missão oferecendo aos leitores mais um número com variedade de assuntos e abordagens. A argumentação, fundamental para a construção e consolidação do pensamento crítico e tema de estudo de crescente importância no contexto do ensino de ciências, está presente em dois artigos: um deles investiga o ensino superior (“Análise de interações discursivas e ações verbais entre estudantes do nível superior de Química: um diálogo sobre a argumentação e a aprendizagem”), enquanto o outro focaliza alunos de um curso técnico integrado de nível médio (“Desenvolvimento da argumentação em uma sequência de ensino investigativa sobre termoelétrica”). Diferentes recursos vêm sendo mobilizados para atrair o interesse dos jovens para a ciência, o que se mostra tão necessário na atualidade. Nesta edição, dois artigos recorrem a contextos que podem promover a motivação dos estudantes. O primeiro remete ao universo dos livros e filmes de Harry Potter (“Alquimia em Hogwarts: A Magia e o Ensino de Química”); o segundo, à elucidação de casos policiais (“Investigação Criminal e Química Forense: espaço não formal de aprendizagem investigativa”). As múltiplas possibilidades de exploração do potencial didático dos laboratórios estão representadas pelos artigos: “Abordagem teórico-experimental entre Química e Matemática utilizando práticas laboratoriais” e “O Diagrama Heurístico em atividades experimentais baseadas em problemas no Ensino Superior de Química”. Além deles, um terceiro artigo sugere relacionar a experimentação a aspectos da cultura afrobrasileira: “Química Experimental e a Lei 10.639/2003: a inserção da história e cultura africana e afro-brasileira no ensino de Química”. Também o uso de tecnologia na sala de aula pode gerar mais envolvimento das novas gerações, tão acostumadas aos dispositivos eletrônicos, como se apresenta no artigo “Kahoot! e Socrative como recursos para uma Aprendizagem Tecnológica Ativa gamificada no ensino de Química”. Para aqueles professores interessados em diferentes formas de promover uma participação mais ativa dos alunos nas aulas de Química, recomendamos a leitura de uma esclarecedora revisão de diversas abordagens no artigo “Problematização: possibilidades para o Ensino de Química”.

Desejamos que esta edição de QNEsc possa encontrar todos os seus leitores com saúde. Cuidem-se bem! 

Paulo Alves Porto
Salete Linhares Queiroz

Editores de QNEsc

Sociedade Brasileira de Química © 2024

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on-line ISSN 2175-2699
impreso ISSN 0104-8899
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