Há cerca de um ano, foi lançado o ChatGPT, que se popularizou e trouxe discussões sobre o uso da inteligência artificial em diversos ramos de atividades. Bem antes disso, em 2020, reportagem de Thiago Domenici para a agência de notícias Pública revelou que uma rede de instituições universitárias privadas utilizava um software de inteligência artificial para “corrigir” e atribuir notas a atividades textuais produzidas pelos alunos – sendo que os professores dessas instituições eram orientados a não compartilhar essa informação com os estudantes. iCom a facilidade de acesso atual a ferramentas online como o ChatGPT, se pode conceber a curiosa situação em que um aluno pede a um chatbot que escreva para ele um trabalho, que será então “corrigido” e avaliado por outra máquina de inteligência artificial. Nesse caso, em vez de a tecnologia servir como um intermediário para a negociação de significados entre seres humanos (alunos e professores), teremos um ser humano servindo como intermediário para levar informação de uma máquina a outra.
Embora esse cenário distópico ainda esteja distante da maioria das escolas, o acesso a internet vem aumentando no país: dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil apontam que, em 2023, 84% dos domicílios brasileiros têm conexão com a redeii. Apesar da existência de muitas desigualdades no que se refere a esse acesso, a tendência é que cada vez mais estudantes estejam conectados. Diferentes níveis de governo têm procurado levar a internet até as escolas, o que conduz a reflexões sobre quais usos estão sendo feitos dela. Nos EUA, por exemplo, há escolas públicas que atendem a populações menos favorecidas testando um chatbot de inteligência artificial (desenvolvido por uma ONG financiada por grandes corporações) cujo papel seria o de um “professor auxiliar”. De acordo com reportagem do New York Times, os resultados ainda são controversos, havendo relatos de que o chatbot forneceu respostas incorretas e também respostas diretas, que não davam espaço para os alunos formularem seus próprios raciocíniosiii. No Paraná, a Associação de Professores tem alertado para a obrigatoriedade do uso de diversas plataformas digitais imposto pelo governo daquele estado, ao mesmo tempo em que a contratação de professores por concurso público é reduzida. Alguns gestores públicos talvez tenham entre seus sonhos de “eficiência administrativa” a substituição de professores por plataformas ditas “educacionais”. Essas ferramentas, que aparentam ser o que existe de mais moderno, podem ser consideradas como versões atualizadas das “máquinas de ensinar” desenvolvidas pelo psicólogo estadunidense B. F. Skinner (1904-1990) na década de 1950iv – agora dotadas de grande sofisticação, mas sustentadas pelos mesmos pilares filosóficos. Está claro que as novas tecnologias vieram para ficar, e terão seu lugar em todos os níveis de ensino. Assim, caberá aos professores e formadores de professores aprender a lidar com elas e explorar todo seu imenso potencial educacional – não para a domesticação e controle das novas gerações, mas para que as tecnologias ajudem os jovens a compreender, criticar e transformar a realidade.
Convidamos os leitores e leitoras de Química Nova na Escola a se juntarem a esse esforço investigativo das potencialidades educacionais das novas tecnologias que surgem a cada dia, e que possamos ver relatos sobre essa temática em edições futuras. Um exemplo pode ser visto neste número: a seção Educação em Química e Multimídia traz um artigo que descreve o desenvolvimento de um software destinado ao ensino de química orgânica. Sabe-se que a visualização espacial de moléculas orgânicas pode ser desafiadora para muitos estudantes, e os recursos oferecidos pelas interfaces gráficas são importantes aliados para o ensino. Os detalhes sobre esse programa podem ser vistos em “Software SAE: um recurso multimídia alternativo para o ensino de substituições aromáticas eletrofílicas”. Outra tecnologia, que permite simular as cores percebidas por pessoas com daltonismo, auxiliou os autores do artigo “Uma representação acessível da Tabela Periódica para estudantes daltônicos” a desenvolverem um material didático voltado a pessoas com essa condição. O material didático resultante representa uma contribuição para nosso ideal de levar o conhecimento químico para todos. Esse ideal pode se manifestar de diferentes maneiras, seja pela inclusão de pessoas com deficiência no contexto escolar, seja extrapolando as fronteiras escolares em atividades de divulgação científica para jovens, em ambientes não formais. Uma experiência desse último tipo é analisada na seção Cadernos de Pesquisa, em artigo intitulado “The chemistry club as a space for promoting the scientific spirit”. Os participantes do referido “clube de química” demonstraram ter desenvolvido competências científicas ao longo de um semestre em que realizaram atividades investigativas de diversos tipos, de natureza teórica e experimental. A utilização de experimentos como recursos didáticos contextualizados e criativos, de modo a contribuir para o exercício de posturas ativas e críticas pelos estudantes, também está presente no artigo “Atividade Experimental Problematizada (AEP) e Educação Ambiental (EA): presença de metais pesados em aterros sanitários – uma proposta didática”. A aproximação entre a química e a educação ambiental oferece oportunidades para abordagens interdisciplinares – que também estão presentes em outro artigo, em registro bastante distinto. Aqui nos referimos ao artigo “O conto literário no ensino e na formação de professores de Química”, que investe na interface ciência-literatura, sugerindo a discussão de aspectos da natureza da ciência a partir de contos de Machado de Assis e Rachel de Queiroz. Somando-se a esse conjunto de contribuições que exploram aspectos tão diversos do ensino de química, o artigo “Concepções de problematização no ensino de química: uma análise nos trabalhos publicados no periódico Química Nova na Escola na última década” oferece importantes reflexões teóricas. Ao analisar a multifacetada apropriação do conceito de problematização por educadores em química, observa-se a viva influência do mestre Paulo Freire, e de outros pesquisadores inspirados por ele, sobre tantos autores que acreditam no potencial transformador da educação.
Desejamos a nosso público leitor uma jornada proveitosa por mais esta edição!
Paulo Alves Porto Salete Linhares Queiroz
Editores de QNEsc
Notas
i https://apublica.org/2020/04/laureate-usa-robos-no-lugar-de-professores-sem-que-alunos-saibam/. Acesso em nov. 2023.
ii https://cetic.br/media/analises/tic_domicilios_2023_coletiva_imprensa.pdf. Acesso em nov. 2023.
iii https://www.nytimes.com/2023/06/26/technology/newarkschools-khan-tutoring-ai.html. Acesso em nov. 2023.
iv https://www.youtube.com/watch?v=vmRmBgKQq20. Acesso em nov. 2023.
Amazônia: busca por caminhos para o desenvolvimento econômico sustentável
Neste mês de agosto dois eventos ocorridos em Belém do Pará colocaram a Amazônia em evidência: a Cúpula da Amazônia e a Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias. Dentre os participantes do primeiro estavam chefes de Estado e representantes dos oito países amazônicos: Brasil, Bolívia, Colômbia, Guiana, Equador, Peru, Suriname e Venezuela. O segundo, realizado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), contou com a presença de representantes do governo, da academia, da sociedade civil, dos povos da floresta e de lideranças que atuam em iniciativas relacionadas à Amazônia, aí incluídos Tony Blair, ex-primeiro-ministro do Reino Unido, e Ban Ki-moon, exsecretário-geral da ONU. A grandiosidade territorial da Amazônia, a exuberância de sua biodiversidade e riqueza de recursos naturais foram mais do que suficientes para atrair as atenções internacionais, especialmente no atual contexto mundial, no qual se tornam assustadoras as mudanças climáticas e os prejuízos que acarretam.
Durante os eventos, a riqueza do subsolo regional e seu grande potencial hídrico, dentre outros assuntos, como o desmatamento e o garimpo ilegal, geraram preocupação e desencadearam discussões e reflexões sobre a maneira como os valiosos recursos naturais locais podem ser aproveitados de forma sustentável. Notadamente, posturas mais ativas por parte do Estado e da sociedade civil, capazes de mudar a lógica predatória dominante na região, foram repetidamente apontadas como necessárias para o delineamento de um caminho que coloque a Amazônia na linha de frente da denominada economia verde, alavancando o desenvolvimento sustentável, o crescimento social e econômico. A reativação da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), de caráter intergovernamental, formada pelos países amazônicos, é uma iniciativa resultante da Cúpula da Amazônia que exemplifica postura dessa natureza, pois a Organização tem o compromisso de propor soluções e desenvolver ações que fomentem o desenvolvimento de iniciativas sociais, ambientais, econômicas e tecnológicas para a Amazônia.
Na expectativa de que a região amazônica seja explorada com critério e tratada de forma cuidadosa, Química Nova na Escola apresenta aos leitores mais uma edição. Neste número, a produção de materiais didáticos é abordada em três artigos. Em “Construção de modelo molecular a partir da reutilização de garrafas PET: propostas para o ensino de química”, os autores descrevem um procedimento detalhado que viabiliza a construção de um modelo molecular com dimensões adequadas para utilização em turmas médias e grandes, versátil o suficiente para permitir a abordagem de tópicos como grupos funcionais, análise conformacional e geometria molecular. A atenção é voltada para estudantes com deficiência visual em outro artigo, que relata a construção de um kit molecular no qual cada átomo é confeccionado com tamanhos e cores diferenciadas, com as devidas simbologias em braile, projetado para favorecer a abordagem de temas como estereoquímica e ligações químicas: “Kit molecular inclusivo para deficientes visuais no ensino de estruturas tridimensionais”. No artigo “Supernova: um jogo didático que aborda a tabela periódica e os elementos químicos utilizando a astronomia”, a construção de um jogo de respostas do tipo tabuleiro é apresentada ao leitor. O avançar dos jogadores em relação ao tabuleiro faz uma analogia aos estágios da existência de uma estrela, com destaque para o processo da síntese dos elementos no seu interior, relacionando o tema tabela periódica e elementos químicos com a astronomia.
A formação inicial e continuada de professores é colocada em pauta em três artigos, um deles na perspectiva da análise do Programa Residência Pedagógica e os demais no contexto da aplicação de atividades didáticas em Cursos de Licenciatura em Química. Os autores do artigo “Residência Pedagógica em Química: compreensões e perspectivas para a formação” investigaram as percepções de professores de Química sobre a participação no Programa e sobre as suas contribuições para a formação profissional, obtendo indicativo de aporte para a formação, principalmente, devido ao contato com novas estratégias didáticas. O artigo “Ensino de química orgânica a partir da temática óleos essenciais no combate ao mosquito Aedes aegypti” relata a aplicação de estratégia didática junto a licenciandos em Química, pautada na revisão de conteúdos de química orgânica, por meio da abordagem dos óleos essenciais como larvicidas naturais contra o mosquito Aedes aegypti. Também investigando um Curso de Licenciatura em Química, os autores do artigo “O papel da rememoração na construção de significados em uma aula experimental sobre titulação ácido-base” analisaram, fundamentados na Teoria da Rememoração, a construção de significados sobre o conteúdo ácido-base por alunos de graduação.
Os artigos que encerram este número, ambos presentes na seção Cadernos de Pesquisa, são intitulados “A interação de estudantes com vídeos do programa ‘Pense como um Corvo’: as formas de pensar da Ciência e a elaboração de previsões e hipóteses” e “O cotidiano em artigos da Química Nova na Escola: contribuições a partir da análise de redes”, e tratam, respectivamente, de assuntos que são constantemente apontados como relevantes para o ensino de Química: a construção de uma visão mais ampla do empreendimento científico e a abordagem de aspectos do cotidiano em salas de aula dessa disciplina.
Para a nossa tristeza, em maio a comunidade de educadores químicos despediu-se de Nicéa Quintino Amauro, docente da Universidade Federal de Uberlândia e ex-presidenta da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as, colaboradora assídua da QNEsc, que nos brindou com artigo sobre interações discursivas em sala de aula no número anterior a este da revista. As lutas de Nicéa contra o racismo e sexismo seguramente inspirarão a geração atual e as futuras.
Em março, o Ministério da Educação (MEC) abriu consulta pública para “avaliação e reestruturação da política nacional de Ensino Médio”. Entidades representativas de professores e alunos, bem como de pesquisadores da área de Educação, têm se manifestado, em geral, pela revogação da assim chamada “reforma” do Ensino Médio estabelecida pela Lei 13.415/17. Entretanto, a resistência a essa aspiração é grande. Do lado da administração pública, os secretários estaduais de Educação são contrários à revogação: argumentam que muito tempo e recursos já foram gastos para adaptar suas estruturas à “reforma”. Parecem ter assim muito zelo pela gestão pública; infelizmente, prevalecem modelos de gestão que priorizam o corte de despesas, pouco importando o impacto dessa “economia” sobre a qualidade da educação oferecida pelo poder público. E para um governo sem maioria no Congresso Nacional, será muito difícil resistir à pressão dos Governadores.
A “reforma” foi propalada por um discurso que agrada ao senso comum e parece sensato: oferecer um ensino de acordo com os interesses dos alunos e adequado ao mundo atual. Assim, o Ensino Médio seria mais atrativo, diminuindo a evasão. Os objetivos não declarados, porém, incluem naturalizar o discurso neoliberal, conformar os estudantes à precarização do trabalho e anular o pensamento crítico.
A “reforma”, proposta por medida provisória em 2016 antes de ser transformada em lei, foi formulada sem que houvesse ampla discussão na sociedade. Entre os efeitos de sua implantação a partir de 2022, tem se observado a redução da carga horária de disciplinas como química, sociologia e história, e a implantação de disciplinas para “incentivar o protagonismo do estudante”, que tratam, por exemplo, da produção de brigadeiros, formação de influencers ou como escrever currículos para pedir emprego. O oferecimento de dez ou onze itinerários formativos para que os estudantes possam escolher permanece no terreno das intenções, como era de se esperar. A falta de professores de determinadas áreas do conhecimento é “resolvida” pelo não oferecimento do respectivo itinerário formativo. Ou seja: a escolha, pelos alunos, dos itinerários que mais lhes interessem, não tem sido mais do que ilusão. A “reforma” trouxe mais desorganização às escolas e esvaziamento da formação dos estudantes, piorando uma situação anterior que já não era boa. A revogação da “reforma”, portanto, não pode significar um retorno puro e simples à já inadequada estrutura anterior. É preciso reorganizar as redes de ensino e os currículos para que se possa avançar rumo ao que determina a Constituição Federal: educação pública e de qualidade para todos, “visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. A construção de um Ensino Médio que caminhe nessa direção, porém, irá requerer que sejam ouvidos os professores que estão nas salas de aula, representantes do movimento estudantil e educadores, mais do que economistas e administradores neoliberais “especialistas em educação”.
Exemplos de como o ensino de química pode contribuir para a formação cidadã não faltam neste número de Química Nova na Escola. Em vários artigos se vê como a contextualização do conhecimento químico promove sua aproximação com a realidade dos estudantes. Fundamentadas em referenciais cognitivistas e humanistas, a contextualização e a interdisciplinaridade são tendências crescentes no ensino de Química, como mostra o artigo “Teorias de aprendizagem no ensino de Química: uma revisão de literatura a partir de artigos da revista Química Nova na Escola”. Outro artigo exemplifica como a contextualização pode ser feita em variadas situações: no caso em questão, a realidade de comunidades rurais é relacionada a conteúdos químicos, como se descreve em “Relato de uma experiência pedagógica no ensino de Química: estudo das propriedades dos agrotóxicos utilizados em uma comunidade rural”. Para que o professor se aproprie desse tipo de abordagem, que favorece o pensamento crítico e a participação coletiva dos alunos, existem instrumentos como o que é descrito no artigo “O Arco de Maguerez como oportunidade para a aprendizagem problematizadora e ativa no ensino de Química”. A contextualização não precisa ficar restrita a questões locais: problemas como o aquecimento global e os desafios científicos e tecnológicos para sua mitigação podem também ser levados para a sala de aula. Para esse fim, o artigo “Redução Eletroquímica de CO2: refazendo nossas pegadas de carbono” fornece subsídios úteis para educadores e estudantes. A escolha por um ou outro tema depende, é claro, da realidade da escola. Nesse sentido, é importante considerar recursos que estejam disponíveis na região. Por exemplo, o ensino experimental dos conceitos de ácido e base pode ser facilitado recorrendo-se à vegetação local, como nos mostram os autores de “Produção de indicadores ácido-base naturais em solução e em papel a partir de extratos de plantas com potencial aplicação no ensino de Química”. Além disso, a formação cidadã inclui discutir as relações entre Química e sociedade – como, por exemplo, as questões de gênero associadas ao fazer científico e tecnológico. A esse respeito, o artigo “Julia Hall e o desenvolvimento do processo Hall-Héroult: o Efeito Matilda na história da indústria química” oferece interessantes possibilidades de discussão. Para atingir os objetivos que estamos delineando aqui, cabe ao professor refletir não apenas sobre os conteúdos, mas também sobre as interações que ocorrem em sala de aula, como demonstra o artigo “Interações discursivas em situações de ensino de Química: em busca de oportunizar novos significados a quem apreende conceitos científicos”. A formação de professores que explorem novas formas de gerar essas interações e reflexões entre os estudantes tem nas tecnologias da informação e comunicação uma fonte de valiosos recursos, conforme se ilustra no artigo “Podcasts para o ensino de Química”.
Que a leitura deste número de QNEsc seja proveitosa a toda comunidade de educadores em Química!
Não foram poucos os Editoriais de cunho pessimista publicados nesta revista durante o período de vigência da administração federal encerrada em dezembro de 2022. Passar os olhos por alguns deles pode até despertar nos leitores lembranças da coleção de livros infanto-juvenis denominada Desventuras em série, de Lemony Snicket, que traz a narrativa da trágica infância dos irmãos Violet, Klaus e Sunny Baudelaire a partir do momento em que se tornam órfãos. De fato, somente situações nas quais momentos desventurosos se mostraram, recorrentemente, mais duradouros que os de tranquilidade, são capazes de justificar títulos como os que seguem: “Desmonte da Educação e da pesquisa no Brasil”; “Novas Diretrizes, velhos problemas”; “ENEM, a vítima da vez”; “Esperança, mesmo que em tempos difíceis”; “A pesquisa científica no Brasil agoniza”. Portanto, é com imensa satisfação e grande dose de alívio e esperança, que escrevemos este Editorial e o denominamos “Futuro promissor”.
Notícias relacionadas à preservação do meio ambiente, com a retomada da composição dos órgãos responsáveis pelo Fundo Amazônia e Fundo Clima, em oposição ao estrangulamento de órgãos ambientais, dentre outras ações, são auspiciosas e voltam a ocupar espaço na mídia. O abandono da postura omissa do governo federal frente à tragédia humanitária vivenciada na Terra Indígena Yanomami, por sua vez, ameniza a vergonha de toda uma nação, que tem se mostrado atônita e aturdida diante de imagens de crianças e idosos em situação de desnutrição e completo descaso. No Ministério da Educação, que recentemente sofreu com gestões curtas e polêmicas, registra-se a chegada ao comando do ex-governador do Ceará, Camilo Santana, estado onde o Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC) tem rendido ótimos frutos. É de se destacar também a posse de Ricardo Galvão na presidência do CNPq, respeitado cientista que fora exonerado de maneira infame da diretoria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais em 2019, após denunciar os dados mentirosos que eram divulgados pelo governo na ocasião para acobertar o desmatamento na Amazônia. São ainda da mais extrema relevância as iniciativas contundentes tomadas no sentido de proteger as instituições republicanas, atacadas de forma ultrajante no dia 8 de janeiro do corrente ano, e conferem ao povo brasileiro esperanças em um futuro promissor.
Confiando na chegada de tempos melhores, Química Nova na Escola apresenta aos leitores mais uma edição. Neste número, ganham destaque experiências relacionadas ao período no qual as aulas presenciais foram suspensas a fim de prevenir a transmissão da covid-19. No que se refere ao Ensino Médio, o artigo “Projeto ‘Ciência e Pandemia’: análise de uma intervenção pedagógica para aumentar a participação dos alunos nas atividades remotas de ciências e matemática” relata uma atividade didática na qual foram estabelecidas associações entre tópicos que vinculam a ciência e a pandemia, tendo sido observada uma acentuação no engajamento dos alunos no ensino remoto. No Ensino Técnico, foi aplicado um projeto de ensino interdisciplinar, baseado na criação de um mangá, em disciplinas de química geral, química ambiental e biossegurança, no qual os alunos lidaram com temáticas como energia, meio ambiente, biossegurança, radiação, ética e inclusão no ambiente de trabalho, apresentado no artigo “O uso de mangás como recurso didático para o ensino de química”. No Ensino Superior, foram divulgadas duas ações em disciplinas oferecidas, respectivamente, em cursos de bacharelado e licenciatura em química: a primeira, descrita no artigo “Aplicação de ferramentas pedagógicas na disciplina de química orgânica I de forma remota”, enfatizou o oferecimento de monitorias e de solicitação de resolução de listas de exercícios, além da construção de mapas conceituais e da leitura de textos de divulgação científica; a segunda, relatada no texto “Explorando o pensamento químico de licenciandos em aulas experimentais remotas”, dedicou especial atenção à viabilização de aulas experimentais remotas, com abordagem investigativa, priorizando o uso do pensamento químico por parte dos alunos.
Nesta edição também estão presentes assuntos que, com assiduidade, estampam as páginas de Química Nova na Escola, como as atividades lúdicas e as experimentais. No artigo “Trilha do Metano: uma proposta de jogo didático sobre saneamento básico e aproveitamento energético do esgoto sanitário para o ensino de química”, o jogo desenvolvido pelos autores é dividido em etapas, que incluem o esgoto sanitário, coleta e tratamento, rota metabólica e aproveitamento energético, e permite a abordagem de questões conceituais, socioambientais e culturais. No artigo “Ensino de eletroquímica no ensino médio por meio de uma atividade experimental com abordagem de equilíbrios simultâneos de oxirredução e de complexação” é apresentada ao leitor a montagem e utilização de um kit experimental sobre a temática em questão, tendo em vista o incremento do processo de ensino e aprendizagem.
Completam esta edição os artigos “A história do promécio e o conceito de descoberta científica” e “Análise e caracterização das provas da Olimpíada de Química do Rio Grande do Sul”. A descoberta do promécio, reconhecida apenas em 1947, dá margem para discussões envolvendo aspectos da história e filosofia das ciências, enquanto reflexões oriundas da pesquisa sobre as Olimpíada de Química do Rio Grande do Sul podem contribuir com o aperfeiçoamento de provas dessa natureza.
Desejamos a todos uma ótima leitura e fé no futuro, que seja, de fato, promissor!
O Ensino de Química no contexto de mudanças políticas, econômicas, sociais e ambientais
Esta edição especial de Química Nova na Escola reúne artigos selecionados dentre os trabalhos apresentados na XVIII edição do Encontro Centro-Oeste de Debates sobre o Ensino de Química (ECODEQ). O Encontro, promovido por educadores, alunos e colaboradores da Universidade Federal de Mato Grosso - Campus Universitário do Araguaia, ocorreu nos dias 08, 09 e 10 de setembro de 2021, em Barra do Garças, Mato Grosso, e foi realizado de forma 100% virtual devido à pandemia de covid-19.
O ECODEQ é um evento bienal, criado por educadores da área de Ensino de Química da região Centro-Oeste do Brasil (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal), que ocorre desde 1989. Seu objetivo é promover a interação e o diálogo entre professores e pesquisadores da Educação Básica e do Ensino Superior, estudantes de Pós-Graduação, estudantes de Graduação e estudantes do Ensino Médio, sobre diferentes temas relacionados com a área de Ensino de Química. O evento possibilita a divulgação de trabalhos de pesquisa, ações e construções em torno das conquistas, necessidades e perspectivas para a pesquisa e o ensino de Química na região Centro-Oeste.
Do total de 154 trabalhos submetidos ao XVIII ECODEQ, 147 foram aprovados e apresentados, distribuídos nas temáticas: Ensino e Aprendizagem; Formação de Professores; Materiais Didáticos; Linguagem e Cognição; Experimentação no Ensino; História, Filosofia e Sociologia da Ciência; Educação em Espaços Não-formais e Divulgação Científica; Tecnologias da Informação e Comunicação; Educação Ambiental; Abordagem Ciência, Tecnologia e Sociedade; Currículo e Avaliação; Diversidade e Inclusão; Cultura e Regionalidade do Centro-Oeste.
Embora os participantes estivessem fisicamente distantes uns dos outros, o XVIII ECODEQ reuniu virtualmente uma quantidade de pesquisadores muito maior do que em suas edições anteriores, não apenas do Centro-Oeste, mas de todo o Brasil. O distanciamento físico e a aproximação virtual se tornam um paradoxo para as relações humanas no meio acadêmico, com o qual somente as vivências no período pós-pandemia vão nos indicar como lidar.
Alguns dos trabalhos apresentados no ECODEQ foram selecionados e seus autores convidados a transformá-los em artigos, que passaram pelo processo habitual de análise por pares feito pela QNEsc. Os artigos assim reunidos nesta edição refletem um pouco da diversidade de temas e abordagens que estiveram presentes no evento. A investigação sobre livros didáticos e diferentes possibilidades de contextualização
de conceitos comparece no artigo “Análise sobre as formas de apresentação do conhecimento químico: o conceito de ligações químicas em livros didáticos”. O ensino de outro importante conceito, tomando como referência publicações em periódicos editados pela PubliSBQ, é objeto de estudo no artigo “O tema radioatividade nas revistas da SBQ e as possíveis contribuições para o ensino de radioatividade na educação básica”. Abordagens inovadoras para o ensino aparecem nesta edição sob diferentes pontos de vista. Uma perspectiva teórica para a análise de jogos desenvolvidos para contextos educacionais é oferecida pelos autores de “Análise de elementos corruptivos dos jogos educativos publicados na QNEsc (2012-2021) na perspectiva de Caillois”. A interdisciplinaridade em duas propostas de ensino exemplifica a importância dessa temática no cenário atual. Uma delas procura aproximar ciência e arte, como pode ser visto no artigo “Poemas no ensino de Química: traçando rumos para um ensino associativo entre Ciência e Arte”. Outra forma de arte – a música – está presente na segunda proposta, juntamente com aspectos de outras disciplinas em suas interfaces com o conhecimento químico, descrita no artigo “Disco de vinil como um tema de extensão universitária”. Também a inserção da Química no contexto de populações periféricas e historicamente oprimidas por preconceitos é uma temática cuja discussão é muito necessária na atualidade, e o artigo “A comunicação crítica e popular e a Química: potencializando a educação para as relações étnico-raciais” oferece uma contribuição para o debate. Tendo em vista ainda a relevância de abordar temas sociocientíficos para promover a aprendizagem da Química, um dos artigos desta edição analisa diferentes concepções de energia discutidas por estudantes, como o leitor pode conferir em “Uma sequência didática sobre o conceito de energia utilizando questões sociocientíficas a partir da Teoria dos Perfis Conceituais”.
Agradecemos aos participantes, organizadores e a todos que, de alguma forma, contribuíram para a realização do XVIII ECODEQ. O esforço de todas essas pessoas foi o que nos possibilitou oferecer ao nosso público leitor esta edição especial de QNEsc.
Boa leitura!
Graziele Borges de Oliveira Pena Coordenadora Geral do XVIII ECODEQ Paulo Alves Porto Salete Linhares Queiroz Editores de QNEsc
O que é a Química para nós? Da resposta que damos a essa pergunta depende o modo como a ensinamos. Em geral, começamos por apresentar a diversidade dos materiais a nossa volta, com suas diferentes propriedades: cores, dureza, maleabilidade, fluidez, volatilidade, combustibilidade, etc. Apresentamos também suas transformações: as mudanças de cor, odor, liberação de gás, de calor, etc., indiciam a formação de novas substâncias. Tudo isso está à vista de todos, e pode ser vivenciado no cotidiano. Mas, do ponto de vista da Química, não nos contentamos com isso. Queremos explicações para esses fenômenos. Já há bastante tempo que as explicações preferidas pelos químicos envolvem átomos, moléculas, íons – enfim, entidades que não podem ser vistas ou sentidas diretamente. Como explicamos a nossos alunos por que o óleo de cozinha não se mistura com a água? Dizer que não se misturam porque o óleo é insolúvel na água é apenas uma tautologia. Nossa explicação envolve modelos submicroscópicos de estruturas diferentes para as moléculas de água e de óleo, e de como elas interagem. Ensinamos, enfim, nossos estudantes a enxergarem além das aparências, a entender que o que se descortina a nossos olhos possui causas invisíveis e complexas.
Analogamente, todo cidadão deveria ser capaz de enxergar além das aparências, em busca das causas subjacentes aos fenômenos que passam diante de suas vistas. No cotidiano, em especial quando se aproximam as eleições, são repetidos à exaustão bordões como “todo político é igual”, “todos são ladrões”, ou “só querem o poder”. Fica-se assim na superfície e se deixa de considerar o que está subjacente. É necessário pensamento crítico para entender a quem interessa esse discurso da desmoralização da política, e também para entender que se encontram em jogo no momento dois projetos de país. Um deles, o de construção de um país soberano, que busca diminuir a sua imensa desigualdade social, colocando seu potencial em proveito da geração atual e das futuras. O outro projeto é o retorno à condição de colônia, em que nossas riquezas agrícolas e minerais são exploradas de maneira predatória, em proveito de muito poucos no presente imediato e sem preocupação com o que será das gerações futuras. Ironicamente, este segundo projeto encontra-se triunfante no ano em que se deveria comemorar os 200 anos de independência, daquilo que seria a superação da condição de colônia de exploração. Se observamos hoje a marcha da bárbarie (representada pela violência, intolerância a qualquer forma de diversidade e pela ignorância soberba) contra a civilização (representada pela democracia, pelo respeito à vida humana e pela valorização da educação e da ciência), devemos procurar entender quais são as causas subjacentes (não exatamente invisíveis, mas invisibilizadas) a essa realidade – o que não deixa de ser um esforço de reflexão crítica semelhante ao que fazemos na Química.
Fiel a sua missão de ajudar educadores e educandos a pensarem a Química e seu ensino para além das aparências, Química Nova na Escola apresenta mais um número a seus leitores. Complementando a edição anterior, apresentamos mais um artigo patrocinado pelo CFQ no âmbito do “Movimento Química Pós 2022 – Sustentabilidade e Soberania”, intitulado “As faces do plástico: uma proposta de aula sobre sustentabilidade”. É claro que as questões sobre ambiente e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável não podem ser apenas objeto de um número especial, mas uma temática permanente nas páginas de QNEsc. Assim, temos mais dois artigos que remetem a essa temática, a saber: “A Educação Ambiental no Ensino Médio: desafios e possibilidades a partir da elaboração de uma sequência didática com ênfase nas emissões de CO2 equivalente”, e “Plástico no Mar: Polímeros à Deriva!”. Ambos analisam intervenções didáticas com alunos do Ensino Médio de escolas públicas. Dois outros artigos tratam de aspectos da experimentação no ensino, com abordagens diferentes. Em “O estudo da teoria ácido-base de Lewis a partir de reações com substâncias fenólicas de plantas medicinais”, os autores propõem um experimento de simples execução, utilizando extratos vegetais. As autoras de “A saga do repolho roxo no ensino de Química”, por sua vez, fizeram um levantamento e análise de trabalhos publicados que utilizam o repolho roxo em contextos didáticos. Além dos conceitos de ácido-base que aparecem nesses dois artigos, outros conceitos também são abordados nesta edição. Um deles é o de estrutura espacial de moléculas, que foi alvo de uma intervenção didática descrita em “Estudo das funções da Química Orgânica com o uso do kit molecular de aprendizagem Atomlig”. A aprendizagem conceitual também é a preocupação dos autores do artigo “Sequência de ensino investigativa para o ensino do conceito de quantidade de substância (mol)”, no qual se apresenta uma proposta que envolve metacognição e trabalho experimental. O desenvolvimento do pensamento químico pode ser especialmente desafiador para alunos surdos, o que ressalta a importância da contribuição contida no artigo “A elaboração do conceito de transformação química em uma perspectiva bilíngue bimodal”. Além da aprendizagem de conceitos, outros objetivos para o ensino de Química merecem atenção no artigo “Uma discussão sobre a descoberta do tecnécio à luz de alguns aspectos da natureza da ciência”. O engajamento dos estudantes nas aulas de Química pode se beneficiar dessa e de outras abordagens que ampliam sua visão sobre a ciência, bem como do recurso a diferentes gêneros literários, como se pode ver em “Contos para o ensino de Química: uma abordagem investigativa”. Seguramente, a concepção de metodologias alternativas só é possível se os professores estiverem bem instrumentalizados – daí a importância de se refletir sobre a formação e a prática de professores, temática presente em dois artigos desta edição. Um deles mais uma vez destaca a relevância do programa de bolsas de iniciação à docência: “Evasão e permanência em um curso de Licenciatura em Química: o que o PIBID tem a oferecer?”. O outro artigo, intitulado “‘É, na aula de Química eu não vejo alguma possibilidade’: as vozes de docentes e discentes sobre a Educação Sexual no ensino de Química”, investiga possibilidades de inserção da Educação Sexual em aulas de Química, analisando os pontos de vista de professores e alunos do Ensino Médio sobre o assunto.
Desejamos que a leitura desta edição de QNEsc propicie aos leitores reflexões úteis para sua prática profissional e sua vivência cidadã.
Paulo A. Porto Salete L. Queiroz Editores de QNEsc
Futuro do Pretérito na Celebração do Ano Internacional das Ciências Básicas para o Desenvolvimento Sustentável da UNESCO: Reflexões a partir do Ensino de Química, Educação Química, Sustentabilidade e a Semana de Arte Moderna no Brasil
Este número especial de Química Nova na Escola é parte do “Movimento Química Pós 2022 – Sustentabilidade e Soberania” (http://www.sbq.org.br/mqp2022), lançado pela SBQ em 2021 considerando o bicentenário da Independência do Brasil e a celebração estabelecida pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) do Ano Internacional das Ciências Básicas para o Desenvolvimento Sustentável em 2022.
A meta da UNESCO é identificar as ligações existentes entre as Ciências Básicas e os objetivos da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Esta é uma oportunidade única para sensibilizar os tomadores de decisão de que, por meio do entendimento básico da natureza, ações mais efetivas podem ser definidas e tomadas para o bem comum. A proposta é ambiciosa e pretende avançar em temas prioritários segundo a ONU, tais como (i) a premissa de que a Ciência é um bem público; (ii) o direito de todos à educação que possibilite a emancipação dos indivíduos; (iii) a necessidade do fortalecimento da presença e visibilidade das mulheres e demais membros da sociedade ainda com pouca representatividade na Ciência e em espaços decisórios ou de definição de realidades; bem como (iv) a reflexão sobre o papel das Ciências Básicas – caso da Química – para o enfrentamento de desafios globais por meio do diálogo respeitoso para a construção da paz no mundo.
Nesse contexto, como o Brasil tem participado dessa construção por meio do Ensino ou Educação Química? Como mencionado anteriormente em nossa publicação na Green Chemistry em 2021, há uma demanda crescente por uma formação mais contextualizada de todas as pessoas e de profissionais de Química, a qual possibilite integrar também conhecimentos de outros campos, como das Ciências Humanas, de modo a proporcionar uma compreensão mais holística e crítica da realidade.
Assim, nesta edição especial contamos com contribuições de norte a sul do nosso país, bem como da Alemanha. Os artigos trazem uma diversidade de abordagens e questões, assim como é diversificada nossa cultura, com soluções criativas e inovadoras. A inclusão de disciplinas voltadas à Educação Ambiental em cursos de graduação e pós-graduação em Química e áreas correlatas tem se mostrado importante para promover uma reflexão sobre a transversalidade dessa temática. Como pode ser observado, há também um relato da inclusão de disciplinas de Química Verde em cursos de graduação em Química. Este é um passo importante de uma conscientização inicial para, num futuro próximo, se tornar uma práxis, de tal forma que os princípios da Química Verde sejam incorporados em todas as subáreas da Química, visando alcançar assim a Química Sustentável. Nesse sentido, também é apresentada uma proposta de experimento didático que se baseia nos princípios da Química Verde, que tem por objetivo a síntese de um fármaco amplamente conhecido, o ácido acetilsalicílico.
Há ainda a proposta de um ambiente virtual como apoio e complemento de aulas experimentais, em que rotas de sínteses mais seguras podem ser exploradas, tanto para garantir a saúde do operador quanto para preservar o ambiente.A Educação Ambiental deve ser levada também a espaços não formais, contextualizada, conectada com os problemas vivenciados pela sociedade. Um dos artigos deste número especial apresenta projetos transdisciplinares visando atingir estudantes do Ensino Fundamental à Pós-Graduação.
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de número 6 diz respeito à disponibilidade e à gestão sustentável da água potável, e outro artigo visa justamente analisar como o tema água é apresentado nas dissertações do Mestrado Profissional em Rede Nacional para o Ensino das Ciências Ambientais. O ODS 7, por sua vez, prevê energia limpa e acessível, tema de dois artigos. Um desses trabalhos propõe uma sequência didática para o Ensino Médio visando a formação crítica dos alunos sobre a sustentabilidade dos combustíveis utilizados no Brasil. O outro artigo avalia a influência do gás carbônico em aquecedor solar de água feito de materiais reutilizados. A reciclagem surge também como uma das etapas de uma indústria 4.0 – no caso de um dos artigos aqui publicados, a indústria do alumínio serve como tema para atividades desenvolvidas no Ensino Médio e no Mestrado Profissional de Química, mostrando a importância da contextualização histórica e regional para o processo de aprendizagem.
Outro problema intrinsecamente ligado às cidades se refere à produção e gestão dos resíduos sólidos urbanos não recicláveis, tema de dois trabalhos deste número especial. Um deles propõe um estudo de caso em que a estratégica didática escolhida permitiu o desenvolvimento de habilidades como trabalho em grupo, pensamento crítico e resolução de problemas, e também a ampliação do conhecimento ambiental, particularmente no que tange ao consumo e produção responsáveis. Visando também uma concepção mais responsável frente aos produtos que adquirimos, o outro trabalho relata a questão dos microplásticos como tema para o Ensino de Química Orgânica. A extração de corantes para a produção sustentável de panelas como tema para o ensino de Cinética Química, descrita em outro artigo, se constitui em ótimo exemplo de diálogo entre conhecimentos tradicionais e científicos. Saindo do ambiente urbano, temos três trabalhos que abordam questões de sustentabilidade no campo, envolvendo agroecologia ou agricultura sustentável, em contraposição à agricultura moderna e ao extensivo uso de agrotóxicos. Importante ressaltar o papel da Química no desenvolvimento sustentável também nessa área. No artigo internacional, os autores objetivaram fornecer uma visão geral sobre os conceitos atuais de sustentabilidade e educação para a sustentabilidade, com particular ênfase no Ensino de Química.
Entendemos que, para compreender o presente e projetar o futuro que queremos, há que se considerar o passado, escovar a história a contrapelo, em uma perspectiva Benjaminiana. Interessante observar que neste mesmo ano celebramos o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, que ainda nos convida a pensar no conceito de alta antropofagia oswaldiana, revisto por Wisnik, que é basicamente a capacidade de “ser outro” ao reconhecer o outro em si. Esse é nosso convite, como editoras convidadas. Considerando essas múltiplas perspectivas para a celebração do Ano Internacional das Ciências Básicas para o Desenvolvimento Sustentável da UNESCO, com ênfase no Ensino e Educação Química, o nosso convite é para que possamos ler os artigos que compõem este número especial como parte de nossa história – reflexões, narrativas e memórias com todas as cores e tintas de Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Anita Malfatti, ao som e silêncio de Villa-Lobos, do trenzinho do caipira. Que os artigos nos façam arrepiar os pelos, corações e mentes neste Brasil ao mesmo tempo tão carente e potente, veneno e remédio.
Transformações na escola após o período de isolamento social
Notícias sobre a volta às aulas presencias em redes estaduais de ensino circulam com cada vez mais frequência nos jornais do país. Nos estados de Pernambuco e São Paulo, por exemplo, na primeira semana de fevereiro já se verificou o movimento de retorno integral no referido formato, enquanto em outros estados este vem ocorrendo em um modelo híbrido ou foi temporariamente adiado devido à nova onda de Covid-19 provocada pela variante Ômicron. Mesmo com todas as particularidades que os estados exibem no trato da questão, o panorama atual sugere que o momento de acolhimento das crianças e jovens nas escolas e a lida com as transformações no contexto estudantil, após o longo período de isolamento social, são iminentes.
Questão fulcral que se coloca é sobre as resistências e tabus que foram quebrados como consequência da pandemia instaurada há praticamente dois anos, e quais possibilidades para a educação derivam desse período longo de convivência, muitas vezes, com o caos. Nesse contexto, destaca-se o uso de tecnologias da informação e comunicação (TIC) para aprender e ensinar, prática da qual muitos professores se mantinham afastados. O uso massivo dessas tecnologias fomentou a ideia de que as perspectivas para elaboração do conhecimento podem ser muito diferentes das produzidas em aulas presenciais.
Os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) viabilizam a comunicação entre os sujeitos envolvidos no evento educativo, o compartilhamento de conteúdos e a execução de atividades didáticas, por meio de variados recursos. Os AVA passaram a fazer parte do cotidiano da escola, sendo possível ao professor interagir de forma construtiva com os estudantes por meio deles e também por redes sociais, além de oferecerem oportunidades capazes de levar os estudantes ao exercício da autoria, autonomia, diálogo e interatividade.
No entanto, para que transformações relevantes resultantes do período de isolamento social sejam mantidas e incrementadas de forma positiva muitos desafios precisam ser vencidos. Além da questão da conectividade em um Brasil tão desigual no que tange ao acesso à internet, é necessário fomentar ações pedagógicas que levem em conta o potencial das TIC e propiciem a colaboração entre os membros da comunidade escolar para o alcance de objetivos educacionais atuais, como a promoção da cidadania ativa.
Frente a um período que se apresenta como repleto de situações desafiadoras, este número de Química Nova na Escola traz aos leitores artigos que podem auxiliar nessa trajetória. Considerando a potencialidade de utilização de atividades lúdicas no ensino de química, tendo em vista a promoção de uma aprendizagem mais participativa, três textos remetem a essa perspectiva. O primeiro deles, “Possíveis relações dos conteúdos de química, física e biologia com os poderes das super-heroínas”, relata uma ação didática na qual os estudantes exploram conhecimentos científicos para conceituarem os poderes das super-heroínas, discutindo o funcionamento desses poderes, assim como o papel que elas desempenham nas histórias em quadrinho e no cinema ao longo do tempo. Os outros dois textos tratam do uso de jogos e abarcam a formação inicial de professores. O jogo “Baralho atômico” é alvo de atenção no artigo “Reelaboração de um jogo: recurso didático como facilitador do processo de ensino e de aprendizagem no ensino de química”, a partir da reformulação teórica da sua estrutura e de suas regras. O trabalho foi realizado no contexto do estágio supervisionado de um curso de graduação, sendo a sua aplicação realizada em sala de aula na presença da professora regente de classe. Em contexto similar, o artigo “Jogos didáticos em um curso de formação inicial docente em química: aspectos teórico-práticos para a abordagem de conteúdos de físico-química” coloca em foco a discussão com licenciandos em química sobre a importância da inserção de jogos didáticos no ensino dessa disciplina.
Outra estratégia contemplada neste número é a realização de oficinas pedagógicas/temáticas, como se vê em dois artigos. Em um deles, “A química da batata-frita perfeita”, o propósito da oficina é a abordagem do conteúdo de cinética química, no que se refere aos fatores que afetam as reações químicas. No artigo “O uso dos sentidos, olfato e paladar, na percepção dos aromas: uma oficina temática para o ensino de química” busca-se, por meio da percepção dos aromas, relacionar a temática com conhecimentos que permeiam a química orgânica. O funcionamento de ambas as oficinas é pautado na abordagem dos Três Momentos Pedagógicos, com o desenvolvimento nas seguintes etapas: estudo da realidade, organização do conhecimentoe aplicação do conhecimento.
Os Três Momentos Pedagógicos também orientam a proposta de experimento apresentada no artigo “A química do banho de ouro em bijuterias: uma proposta de ensino baseada nos Três Momentos Pedagógicos”, que reproduz a galvanoplastia do banho de ouro em bijuterias, contemplando tópicos relacionados aos conceitos de eletroquímica, com destaque para a eletrólise. Também na perspectiva da realização de experimentos, é descrita a construção de um espectroscópio utilizando materiais alternativos e de baixo custo para a identificação, em sala de aula, dos espectros de linhas de alguns elementos no artigo “Construção de um espectroscópio alternativo para o ensino do Modelo Atômico de Bohr e linhas espectrais de elementos”.
A história da química e o uso de imagens em atividades investigativas e em livros didáticos são também considerados neste número. O artigo “Hantaro Nagaoka e o modelo saturniano” tem como objetivo ilustrar o modelo atômico mencionado no título, a partir de uma abordagem contextualizada, chamando a atenção para aspectos culturais que envolveram a formação científica do Japão no século XIX e início do século XX. A imagem, por sua vez, é destacada como ferramenta didática no artigo “A fotografia em atividade experimental investigativa de química” e tomada como objeto de investigação no artigo “Análise de inscrições em livros didáticos de química”.
Que a leitura sirva de inspiração aos educadores em química do Brasil para a realização de transformações frutíferas na escola após o período de isolamento social!
Temos vivido situações que deveriam levar as pessoas à reflexão sobre as escolhas que fizeram até aqui e o que pretendem para o futuro. No último mês de outubro, o governo federal e seus apoiadores no Congresso Nacional promoveram a retirada de 90% dos recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) que seriam destinados a bolsas e apoio à pesquisa. Pouco antes, pesquisadores de todo o país haviam submetido seus projetos ao Edital Universal do CNPq, o qual não era realizado desde 2018. Embora com novas regras que dificultaram a apresentação dos projetos, e limitaram os valores a serem distribuídos a cada centro de pesquisa a quantias praticamente irrisórias, ainda assim o Edital Universal cumpre importante papel, pois atende a todas as áreas do conhecimento. Caso os cortes anunciados no orçamento do MCTI não sejam revertidos, o esforço dos pesquisadores para cumprir as exigências do Edital terá sido em vão. Pior do que isso é a perspectiva de que não haverá condições para o prosseguimento de inúmeras e importantes linhas de pesquisa no país.
Além disso, deixaram de ser pagas em outubro as bolsas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) e do Programa de Residência Pedagógica (RP), prejudicando cerca de 60 mil bolsistas. Trata-se de mais um duro golpe na formação dos futuros professores da Educação Básica. Mas não se pode esperar nada muito diferente de um governo cujo ministro da educação (aliás, um cargo atualmente de alta rotatividade), o pastor Milton Ribeiro, declarou, em um evento promovido por uma igreja, que o Brasil tem Universidades demais. O mesmo personagem já havia afirmado em entrevista que Universidade deveria ser “para poucos”.
Outro evento representativo do caráter dos governantes de momento foi o cancelamento da concessão da Medalha do Mérito Científico a dois pesquisadores da Fiocruz, dois dias após haver sido publicada em Diário Oficial. A concessão havia desagradado setores negacionistas e obscurantistas que sustentam o governo, pois um dos pesquisadores demonstrou a ineficácia da cloroquina para o tratamento da covid-19, e a outra promoveu políticas de saúde pública que incluíam a preocupação com pessoas transgênero. Em demonstração de dignidade, solidariedade e respeito – não apenas aos colegas, mas à própria ciência – outros 21 cientistas que receberiam a Medalha na mesma ocasião recusaram a honraria, e justificaram que não poderiam aceitá-la de quem “não apenas ignora a ciência, mas ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva”.
Como o ridículo parece não conhecer limites, adicionou-se mais uma afronta: o atual ocupante da cadeira presidencial outorgou a si mesmo o mais alto título (Grão-Mestre) da Ordem Nacional do Mérito Científico. O absurdo, porém, apenas mantém a coerência com o discurso de um governo fundamentado na mentira. Até aqui, essa foi a escolha da sociedade brasileira. O que ela há de querer para o futuro?
Relatos de ações didáticas concretizadas com base na experimentação também são encontrados nos artigos “Galvanização: uma proposta para o ensino de eletroquímica” e “Uma visão multi e interdisciplinar a partir da prática de saponificação”. Em ambos, o desenvolvimento das atividades busca priorizar o estabelecimento de relações entre o conhecimento científico e o conhecimento cotidiano, considerando o viés da interdisciplinaridade.
Se o futuro é incerto, ao menos Química Nova na Escola mantém no presente seu compromisso em favor da educação e da ciência brasileiras, e apresenta aos leitores mais uma edição. Neste número, questões relativas à diversidade e educação para as relações étnico-raciais são abordadas de diferentes maneiras em dois artigos. Em “O caso Alice Ball: uma proposta interseccional para o ensino de Química”, as autoras propõem uma sequência didática a partir da trajetória da cientista estadunidense Alice Ball. A inclusão das contribuições dos povos africanos no contexto do ensino é discutida no outro artigo, “Metalurgia do ferro em África: a Lei 10.639/03 no ensino de Química”. Tendo em vista a necessidade de aproximar o conhecimento escolar da realidade dos estudantes, utilizar temáticas relacionadas a alimentos pode ser uma boa estratégia. Três artigos nesta edição fazem referência a alimentos, sob enfoques bastante diversos. A discussão sobre agrotóxicos no ensino de química orgânica é focalizada no artigo “A invasão do agrotóxico na agricultura: abordagem para o estudo das funções orgânicas em perspectiva freireana da educação numa escola pública”. Uma proposta de atividade experimental que utiliza sucos de frutas é apresentada em “Atividade antioxidante de frutas cítricas: adaptação do método do DPPH para experimentação em sala de aula”. Outro experimento, desta vez utilizando um corante alimentício, é apresentado no artigo “Avaliando métricas em Química Verde de experimentos adaptados para a degradação do corante amarelo de tartrazina para aulas no Ensino Médio”. Ainda no campo da experimentação, diversas atividades com reagentes de baixo custo e com possibilidade de serem exploradas com viés investigativo são descritas em “Tintura de iodo como potencial reagente para a experimentação no ensino de Química”.
Outra estratégia que tem sido explorada com sucesso para engajar os jovens na aprendizagem de ciências é o uso de jogos, como se vê em dois artigos deste número. Ambos exploram o popular formato de jogos de tabuleiro, seja para o ensino de ligações químicas (“Iônico ou covalente? Dama Química como forma lúdica e interativa para o ensino de Química na Educação Básica”), seja para o ensino de geometria molecular (“GeomeQuímica: um jogo baseado na Teoria Computacional da Mente para a aprendizagem de conceitos de geometria molecular”). Para além da ciência escolar, os museus de ciências e outros espaços de exposição se constituem em importantes aliados da popularização da ciência e podem ajudar a ampliar a compreensão e o interesse pela Química. Uma pertinente iniciativa nesse sentido encontra-se descrita no artigo “Primo Levi e a divulgação da Ciência em materiais multimídia de uma exposição museográfica”. Finalmente, um tema que se encontra na ordem do dia desde a publicação da assim chamada Base Nacional Comum – Formação em 2019 também é tratado nas páginas que seguem. As dificuldades envolvidas no estabelecimento de um curso para formar professores de Química são objeto de reflexão em “Implantação e desenvolvimento do curso noturno de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Ceará: trajetória, sentidos e (des)configurações da formação docente”. Como se vê, os desafios são grandes e as soluções não são simples. Cabe-nos não esmorecer.
Desejamos um ótimo proveito a todas as pessoas que nos prestigiam com sua leitura!
Com mais de 570.000 mortos, e ocupando, até o momento, o lugar de país com o segundo maior número de vítimas da covid-19 no mundo, o Brasil vem sendo tomado por profunda amargura e tristeza desde o início da pandemia. Não bastassem as vidas perdidas, a nação assiste estupefata ao surgimento de notícias que tratam de ilícitos vergonhosamente vinculados à crise sanitária, que incluem, dentre outros desatinos, irregularidades em respostas iniciais à conjuntura apresentada e nas compras de testes para detecção do vírus, assim como das próprias vacinas. Mais do que merecedores de informações que ajudem a manter a tranquilidade, os cidadãos brasileiros, finalmente, começam a se deparar com elas nos últimos dias. De fato, o número daqueles totalmente imunizados já ultrapassa os 25%, e mais de 57% da população recebeu a primeira dose da vacina. Nesse contexto, a esperança de dias melhores passa a se fazer presente, com a volta de cenas que, apesar de aparentemente banais, possuem atualmente valor inestimável, como os passeios com a família e com os amigos. Isso é um alento frente ao longo período de confinamento, embora não deva se caracterizar como estímulo à suspensão das medidas amplamente divulgadas de prevenção, como o uso de máscaras, especialmente diante do avanço da variante delta no país. Que possamos persistir a caminho da normalidade, o que, para nós educadores, implica na grande alegria de revermos os nossos estudantes e retomarmos as atividades presenciais nos ambientes de ensino de forma segura. Este número da Química Nova na Escola traz uma gama de artigos inspiradores, com potencial para tornar esse reencontro ainda mais prazeroso e enriquecedor.
Em um momento em que a mídia televisiva descortina para o mundo cenas estarrecedoras no Afeganistão, decorrentes da volta ao poder do grupo Talibã, a preocupação em relação aos direitos das mulheres é pauta de altíssima relevância. Nossos leitores encontram neste número elementos que subsidiam a reflexão sobre as relações de gênero e de poder no artigo “Estado da arte: gênero e sexualidade no contexto do ensino de química”. Nele, a partir de um mapeamento na literatura nacional, os autores buscam a promoção de questionamentos sobre a naturalização de determinadas desigualdades e o fomento à educação sexual na perspectiva dos direitos humanos.
Em alinhamento com a necessidade ainda presente de oferecimento de aulas remotas, dois artigos remetem à possibilidade do uso do computador como mediador na construção do conhecimento químico. O primeiro, “Software Cidade do Átomo como instrumento didático no ensino de química”, relata percepções de estudantes do ensino médio sobre o uso dessa ferramenta educacional na solução de problemas vinculados à produção de energia termonuclear. De forma similar, o segundo artigo, “Jogo digital e o conceito de aleatoriedade: aplicação e potencialidades para o ensino e a aprendizagem”, também traz as percepções, agora de licenciandos, sobre o conceito de aleatoriedade presente na teoria cinética dos gases e o potencial do jogo para o ensino e a aprendizagem.
Questões que ganham vulto em discussões recentes de educadores químicos, como o uso e a integração de diferentes modos semióticos na construção de significados e o papel da extensão universitária como meio de divulgação científica, também estão contempladas, respectivamente, nos artigos “Abordagem multimodal: um olhar para os livros didáticos de química” e “Cientifi-CIDADE: estimulando a divulgação da ciência por meio da extensão universitária”. Os autores do artigo referente à multimodalidade destacam que, dentre os vários modos semióticos presentes nos livros analisados, as imagens ganham protagonismo e demandam particular atenção no que tange à forma como são relacionadas com outros modos. Por sua vez, as ações do programa de extensão Cientifi-CIDADE, expostas no texto, podem nortear atividades que tenham como propósito o envolvimento de licenciandos na aproximação da população com o espaço universitário.
Relatos de ações didáticas concretizadas com base na experimentação também são encontrados nos artigos “Galvanização: uma proposta para o ensino de eletroquímica” e “Uma visão multi e interdisciplinar a partir da prática de saponificação”. Em ambos, o desenvolvimento das atividades busca priorizar o estabelecimento de relações entre o conhecimento científico e o conhecimento cotidiano, considerando o viés da interdisciplinaridade.
Neste número destaca-se ainda uma experiência poucas vezes registrada em Química Nova na Escola. Aqueles que apreciaram o assunto abordado no artigo “Da ordem ao caos: uma reorientação das ciências e da química”, publicado anteriormente nesta revista (v. 42, n. 4), serão positivamente surpreendidos com sua retomada pelos mesmos autores em “Do caos à ordem: oscilações, padrões e auto-organização”. Por fim, encerramos este Editorial prestando uma homenagem ao Professor Eduardo Motta Alves Peixoto, que nos deixou no mês passado. Peixoto foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) e responsável pela criação das revistas Química Nova e Journal of the Brazilian Chemical Society. Colaborador de Química Nova na Escola desde o seu primeiro número, publicado em 1995, atuou por muitos anos como responsável pela seção “Elemento Químico”. Modestamente, dedicamos este número de QNEsc à memória do Professor Peixoto.
Desejamos uma ótima leitura e retomamos aqui o apelo para que, mesmo com a esperança de volta da normalidade que desponta no horizonte, nossos leitores e leitoras continuem se cuidando!
A Revista Química Nova na Escola (QNEsc), com uma periodicidade trimestral, propõe-se a subsidiar o trabalho, a formação e a atualização da comunidade do Ensino de Química brasileiro. QNEsc integra-se à linha editorial da Sociedade Brasileira de Química, que publica também a revista Química Nova e o Journal of the Brazillian Chemical Society. Química Nova na Escola é um espaço aberto ao educador, suscitando debates e reflexões sobre o ensino e a aprendizagem de química. Assim, contribui para a tarefa fundamental de formar verdadeiros cidadãos. Nesse sentido, a Divisão de Ensino disponibiliza neste portal, na íntegra, e de forma totalmente gratuita, todos os artigos publicados no formato PDF. Estão disponíveis também os Cadernos Temáticos publicados desde 2001 pela Divisão de Ensino.
Accesso Aberto
Química Nova na Escola (QNEsc) é um periódico de acesso aberto completo. Todos os artigos publicados pela QNEsc são tornados acessíveis online livre e permanentemente logo após a publicação, sem taxas de assinatura ou barreiras de inscrição.
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Descontos são oferecidos a todos os autores correspondentes que são sócios efetivos ativos da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) por pelo menos 2 anos sucessivos. Descontos adicionais são oferecidos sempre que 2 ou 3 ou mais artigos dos autores correspondentes são aceitos para publicação em um dado ano em quaisquer das quatro revistas publicadas pela SBQ, em qualquer sequência (QNEsc, Journal of the Brazilian Chemical Society, Química Nova e Revista Virtual de Química). Os valores das TPs para todos os artigos aceitos estão indicados abaixo. Para mais detalhes sobre as ideias relacionadas a esses valores de TPs, vide este comunicado da SBQ.
Número de artigos aceitos em um dado ano*
TP para não sócios da SBQ, de instituições brasileiras (estrangeiras)
TP para sócios da SBQ por ≥2 anos, de instituições brasileiras (estrangeiras)
TP para sócios da SBQ por ≥5 anos, de instituições brasileiras (estrangeiras)
R$ / (US$)**
R$ / (US$)**
R$ / (US$)**
1
560,00 / (150.00)
448,00 / (120.00)
280,00 / (75.00)
2
504,00 / (135.00)
364,00 / (97.50)
196,00 / (52.50)
≥3
453,60 / (121.50)
280,00 / (75.00)
112,00 / (30.00)
* Aplicável às quatro revistas publicadas pela SBQ (vide acima), em qualquer sequência. Por exemplo, para sócios efetivos ativos da SBQ por ≥2 anos de instituições brasileiras, se três artigos seus são aceitos em um dado ano, o 1º deles pela QNEsc, o 2º deles pela Revista Virtual de Química e o 3º deles pela QNEsc, a TP para o 1º artigo é R$ 448,00, enquanto a TP para o 3º artigo é somente R$ 280,00.
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Indexações
Chemical Abstracts, Latindex, Portal de Periódicos da CAPES, CCN/IBICT, Google Acadêmico, Unibibliweb e DOAJ: Directory of Open Access Journals