Protestos e incertezas marcam o início de 2018 no Brasil
Para onde quer que se olhe, no início deste ano, quando o assunto é a gestão da coisa pública, esbarramos em protestos. Estes ganharam vulto e vieram embrulhados em cores e formas exuberantes no Sambódromo da Avenida Marquês de Sapucaí, na capital carioca. Durante o carnaval, o povo, por meio da música e da dança, extravasa sentimentos, e foram sentimentos de rancor, pesar e revolta que estiveram expressos em muitas alas. A violência do dia a dia no Rio de Janeiro, onde 44 crianças morreram vítimas de balas perdidas desde 2007, segundo a ONG Rio de Paz, foi encenada na passarela em diferentes nuances. Associada a ela estiveram a precariedade nas condições de trabalho e o trabalho escravo propriamente dito, que desafortunadamente ainda encontra espaço no nosso maltratado país. Retratar mazelas nacionais como a desigualdade social, a manipulação da opinião pública por interesses contrários aos da maioria, o sucateamento da saúde pública, o uso indevido de impostos e a ganância de agentes públicos foi tarefa assumida e levada a cabo com propriedade e brilhantismo por Escolas de Samba renomadas. No início do ano também se escancarou a desfaçatez de juízes que defenderam a atribuição do chamado “auxílio moradia” a si próprios, que lhes permite receber acima do teto constitucional. Que garantia podem ter os cidadãos de que os juízes tomam suas decisões com base nas leis, e não conforme seus interesses pessoais, se são capazes de arrogarem a si privilégios destinados a burlar normas constitucionais? Concluído o que para muitos se traduz no “maior espetáculo da terra”, ecoa ainda mais fortemente a pergunta: como nos livrarmos de um Brasil mergulhado em profunda crise ética e moral, em um período no qual uma sucessão de escândalos conduz ao completo descrédito da classe dirigente?
Iniciamos 2018 não somente com protestos, mas também com muitas incertezas, dentre elas a de natureza eleitoral. A condenação em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dá margem a cenários de turbulência, com várias candidaturas nas eleições presidenciais e com votação pulverizada. Nesse contexto, até mesmo a presença no segundo turno de candidato que incita a prática do estupro não está descartada. São tempos de muitas dificuldades a enfrentar, quando, além da busca de avanços, é também crucial impedir retrocessos como os assistidos recentemente, com severos cortes de verbas promovidos pelo governo federal nas áreas de educação, saúde, segurança e ciência e tecnologia – em nome de pagar juros aos donos do capital financeiro.
Diante de tantas incógnitas, seguimos na nossa jornada de educadores. Os textos que compõem este número da QNEsc estão alinhados com tendências de transformação que permeiam a educação em ciências na atualidade, algumas delas dispostas em documentos curriculares oficiais. O destaque é para a inclusão da perspectiva histórica no ensino de química. Essa tendência, presente em três artigos, aponta para a necessidade de o ensino propiciar aos alunos o entendimento da ciência como uma construção social, suscetível a controvérsias e conflitos, comuns a qualquer atividade social. O primeiro deles (Discutindo o contexto das definições de ácido e base) aborda definições de ácido e base no contexto em que foram elaboradas por Arrhenius, Brønsted-Lowry e Lewis. O segundo (Uma história do antiatomismo: possibilidades para o ensino de química) chama a atenção para o papel das controvérsias científicas, a partir da apresentação de uma narrativa de cunho didático a respeito do antiatomismo. O terceiro (O ensino de equilíbrio químico a partir dos trabalhos do cientista alemão Fritz Haber na síntese da amônia e no programa de armas químicas durante a Primeira Guerra Mundial) relata a aplicação de uma sequência didática que visou à promoção de reflexões sobre aspectos sociais, políticos e econômicos da prática científica e foi pautada no uso de recursos variados como vídeos, listas de exercício e artigos publicados na QNEsc.
Aspectos atinentes às relações que se estabelecem entre identidade docente e o desenvolvimento do estágio nos cursos de licenciatura são investigadas no artigo Práxis e identidade docente: entrelaces no contexto da formação pela pesquisa na licenciatura em química. Para tanto, foram analisados 18 projetos pedagógicos de cursos de licenciatura em química, tendo como foco a construção da identidade docente na perspectiva da pesquisa. Os resultados indicaram que na maioria deles não se observa a pesquisa como eixo formativo.
Propostas de ensino que propiciam a abordagem de questões científicas e sociocientificas são encontradas nas seções “Relatos de Sala de Aula” e “Experimentação no Ensino de Química”. Nessa perspectiva, para trabalhar o conteúdo de funções orgânicas é sugerida a realização de atividade lúdica que consiste na adaptação do Jogo Perfil®, no artigo Pistas orgânicas: um jogo para o processo de ensino e aprendizagem da química. Em diferentes perspectivas, experimentos que favorecem a abordagem do problema de descarte descontrolado de filmes plásticos de polímeros, oriundos de petróleo, assim como da recomendação de dietas com indicações para a retirada do glúten da alimentação humana são sugeridos nos artigos: Desenvolvimento e caracterização de filmes biodegradáveis obtidos a partir de amido de milho: uma proposta experimental de produção de biofilmes em sala de aula e O glúten em questão.
O que é preciso para ser um professor? A julgar pela imagem, amplamente divulgada pela mídia, do rosto ensanguentado da Profa. Marcia Friggi, agredida por um aluno em sua escola em Santa Catarina, talvez seja necessário algum treinamento em defesa pessoal. Mas, talvez as exigências não sejam muitas. Um jornal distribuído na região de Campinas, São Paulo, por um dos maiores grupos de comunicação do país, exibiu em manchete, nestes tempos de desemprego em alta: “Professores e garçons estão entre os bicos mais buscados”. Não se pode dizer que se trata de uma opinião isolada. Uma das maiores empresas do ramo de universidades do país contratou um animador de auditório, conhecido por seu avantajado apêndice nasal e por promover a reforma de carros usados, para proclamar em sua propaganda: “Tornese professor e aumente sua renda”. O anúncio acrescentava: “Curso 100% online. Não precisa de vestibular!” Em outro episódio, um partido político estampou em seu site oficial uma iniciativa realmente inovadora: “Sob o comando do prefeito Duarte Nogueira (PSDB), o município de Ribeirão Preto (SP) lançou um projeto que cria um sistema de trabalho cuja ideia é pagar por aulas avulsas a docentes, sem ligação com o município, sempre que faltarem profissionais na rede municipal de ensino. Apelidado de ‘Uber da Educação’ ou ‘Professor Delivery’, a proposta busca resolver o problema da falta de docentes nas escolas. (...) De acordo com o projeto, o professor não teria vínculo empregatício com a prefeitura e o acionamento se daria por aplicativos, mensagens de celular ou redes sociais. Após receber a chamada, o professor teria 30 minutos para responder se aceita a tarefa e uma hora para chegar à escola. Caso contrário, outro seria acionado no seu lugar.”1 Chama a atenção que a Secretária da Educação do município, responsável pela proposta, é uma ex-reitora da Universidade de São Paulo, Suely Vilela. O “Uber da Educação”, porém, foi rejeitado pelo Conselho de Educação de Ribeirão Preto.
A cada vez que nos deparamos com situações como essas, reveladoras da desvalorização do trabalho docente pela sociedade, nos perguntamos: como incentivar os jovens a se tornarem professores? Que atrativo ainda pode haver na profissão? Em termos objetivos, há pouco a dizer. Aparentemente, só nos resta contar com o desejo de muitos jovens de mudar o mundo – ou talvez fosse melhor dizer, de mudar o mundo mudando as pessoas por meio da Educação. Entretanto, contar apenas com o idealismo não basta. Nestes tempos de tantos ataques a direitos e conquistas que deveriam caracterizar uma sociedade civilizada, temos que nos unir e nos organizar. A voz dos verdadeiros educadores precisa ser ouvida, para que a sociedade não continue a ser enganada pelos falsos diagnósticos e falsas “soluções” apresentadas por pseudoespecialistas em educação.
Para os verdadeiros educadores em Química, para aqueles que perseveram na profissão docente, este número de Química Nova na Escola traz contribuições da pesquisa e da vivência em salas de aula vindas de várias partes do Brasil. São trabalhos que exemplificam a riqueza e a variedade de saberes necessários à profissão docente, demonstrando como esta é muito diferente de um “bico”.
O artigo intitulado “Contribuições da sociologia de Bourdieu para repensar a educação e o ensino de ciências” promove importantes reflexões sobre o papel da escola na sociedade, auxiliando o professor a compreender melhor as dificuldades dos alunos e a aperfeiçoar suas estratégias didáticas e avaliações.
A formação de professores de química é abordada, na forma de um estudo de caso, no artigo “O professor formador em foco: identidade e concepções do fazer docente”. Nele são discutidas diferentes dimensões da influência dos docentes do ensino superior sobre a formação dos futuros professores da educação básica. Outra perspectiva da formação de professores – a formação continuada em serviço – é oferecida pelo artigo “Considerações de professores em relação à implantação da Proposta Curricular de Química do Estado de São Paulo”.
Diferentes dimensões do ensino de conceitos químicos também estão presentes nesta edição. A abordagem proposta pelos autores do artigo “Do senso comum à elaboração do conhecimento químico” sugere que a utilização de diferentes dispositivos didáticos, favorecendo as interações entre os alunos, e destes com o(a) professor(a), contribui para a aprendizagem significativa de conceitos científicos. Algumas das dificuldades relacionadas à educação inclusiva, especificamente referentes ao ensino de alunos com deficiência auditiva, e sugestões para superá-las, são apresentadas em “O ensino de química para alunos surdos: o conceito de misturas no ensino de ciências”. Uma proposta para a contextualização do ensino de química orgânica é focalizada no artigo “Temática chás: uma contribuição para o ensino de nomenclatura dos compostos orgânicos”. A contextualização também está presente no artigo “Adaptação metodológica de processos oxidativos avançados (POA’s) na degradação de corantes para aulas de Ensino Médio”, no qual os autores apresentam experimentos com materiais acessíveis e de baixo custo. Finalmente, o artigo “Quitosana: da química básica à bioengenharia” apresenta uma interessante temática que relaciona reaproveitamento de resíduos, engenharia de tecidos e diferentes aplicações de biopolímeros com conceitos básicos de química.
Que a leitura deste número de Química Nova na Escola seja proveitosa a todos!
Qual de nós não conhece o ditado popular “agosto é o mês do desgosto”? Este ano, mais do que em outros recentes, está difícil não nos rendermos à superstição que credita a agosto uma conotação negativa. De fato, logo no segundo dia do mês, a denúncia da Procuradoria Geral da República contra Michel Temer por corrupção passiva foi barrada na Câmara dos Deputados. O apoio de 236 parlamentares determinou tal desfecho, que demonstrou uma vez mais a indigência moral de nossos congressistas. Políticos estes que, diante da denúncia, mostraram maior interesse em angariar cargos e dinheiro para emendas parlamentares do que em atender à população, ansiosa por investigar as alarmantes suspeitas sobre a conduta daquele que ora ocupa o mais alto cargo do país. Em contraponto, não é menos alarmante a apatia dos cidadãos brasileiros diante de tamanha bandalheira. Não deveríamos ir às ruas, bater panelas e questionar a legitimidade de ações dessa relevância por parte de políticos que, em número considerável, respondem a algum tipo de procedimento penal?
Enquanto isso, ainda no início do mês e longe dos discursos extravagantes pronunciados na Câmara dos Deputados no dia da votação sobre a denúncia, grande comoção foi gerada nas instituições de ensino e pesquisa com a divulgação das dificuldades que atravessa o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para honrar os compromissos assumidos com milhares de bolsistas. A manifestação de preocupação com mais esse sinal de descaso do governo federal com as áreas de Educação, Ciência e Tecnologia foi imediata por parte de várias sociedades científicas, dentre as quais a Sociedade Brasileira de Química. O CNPq, fundado há mais de sessenta anos, é de fundamental relevância, não somente para o desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica, mas também para a formação de pesquisadores e recursos humanos. As iniciativas voltadas à referida formação são muitas e incluem o Programa de Bolsas de Iniciação Científica, que desempenha papel importante no crescimento pessoal de graduandos, na construção de uma visão não ingênua sobre a ciência e na socialização profissional. Levar adiante medidas que enfraquecerão o CNPq resultará na não ampliação e consolidação de núcleos de pesquisa, com prejuízos para toda a sociedade brasileira.
Firme na intenção de contribuir para a formação de alunos participativos, capazes de atuar de forma crítica e responsável, inclusive diante de situações e contextos adversos como os que atualmente enfrentamos no país, é que a QNEsc traz neste número artigos que buscam enriquecer o leque de conhecimentos dos educadores químicos para que desencadeiem, em sala de aula, processos fomentadores de tal atuação.
Os cursos de Licenciatura em Química são alvo de atenção em dois artigos. No primeiro deles, “O perfil da Prática como Componente Curricular na formação inicial de professores de química: possibilidades de inovação didático-pedagógica”, os autores tratam dos fundamentos e discutem a importância da Prática como Componente Curricular (PCC) em função das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores. Além disso, sugerem caminhos que possibilitem à PCC funcionar como suporte à articulação entre teoria e prática e ao desenvolvimento de saberes profissionais. Em contraponto, são os Projetos Político Pedagógicos (PPP) de cursos dessa natureza, de três instituições, uma particular e duas públicas, que se constituem como objeto de estudo no segundo artigo: “Caminhos e descaminhos da formação docente: uma análise dos projetos pedagógicos de cursos de Licenciatura em Química do Rio de Janeiro”.
Na seção “Relatos de Sala de Aula”, o leitor encontra atividades elaboradas e desenvolvidas por participantes do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência do Rio de Janeiro e do Paraná. Estas possuem em comum o fato de aproximarem conteúdos químicos do cotidiano dos alunos, a partir da problematização de questões ambientais, sociais e econômicas relacionadas aos temas em foco: a tabela periódica e o chocolate. Enquanto os pibidianos fluminenses construíram uma tabela periódica interativa a partir da reciclagem de embalagens Tetra Pak®, os paranaenses empregaram o método cooperativo Jigsaw na ampliação dos conhecimentos sobre o chocolate.
Os escorpiões sempre despertaram muita curiosidade e fascínio! É sobre eles que trata o artigo da seção “Experimentação no Ensino de Química”, no qual os autores oferecem elementos para a elaboração de uma proposta interdisciplinar para o Ensino Médio, a partir do estudo da fluorescência do escorpião. A questão da experimentação é também abordada na perspectiva do uso da tecnologia assistiva como ferramenta cultural em experimento sobre a extração do café com alunos deficientes visuais, assim como do ponto de vista da análise da polissemia da palavra experimentação no contexto da Educação em Ciências.
Este ano, a SBQ faz 40 anos e comemora em grande estilo: sediando o 46º. Congresso Internacional de Química promovido pela International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC), que ocorrerá em conjunto com a 40ª. Reunião Anual da SBQ, de 9 a 14 de julho, em São Paulo, SP. Para destacar a importância desse acontecimento, basta lembrar que é a primeira vez que a IUPAC promove seu principal congresso na América do Sul. O evento contará com a participação de grandes nomes da ciência química de todo o mundo, em uma extensa programação (que pode ser consultada em www.iupac2017.org), sob o tema geral Sustainability & Diversity through Chemistry. Entre as diversas conferências e trabalhos a serem apresentados, nas diferentes áreas e especialidades da química, está incluída também uma programação dedicada à área de Ensino de Química. Serão 14 conferências apresentadas por convidados de diferentes países, incluindo Alemanha, Austrália, Colômbia, Costa Rica, EUA, Holanda, Israel, Japão, Malásia, Reino Unido e Turquia - além de nosso colega Eduardo F. Mortimer (UFMG), ex-editor da QNEsc e participante ativo da Divisão de Ensino de Química da SBQ, que falará sobre o tema “Pedagogic link-making in higher education science classrooms: does the content matter?” Além das conferências, foram aceitos mais de uma centena de trabalhos na área de Ensino de Química, estando previstas 22 apresentações orais e 89 na forma de pôsteres. Será, sem dúvida, uma grande oportunidade para que a comunidade de educadores em química do Brasil e do mundo troquem experiências e divulguem o conhecimento que vem sendo produzido na área.
Enquanto aguardamos esse grandioso congresso, apresentamos mais um número de Química Nova na Escola. Nesses tempos em que ódio e intolerância se espalham em tantas instâncias no Brasil e no mundo, é alentador perceber que também se organiza, de muitas formas, a resistência a esse movimento. Tanto melhor se a própria sala de aula de química puder se constituir em espaço para a inclusão e o respeito à diversidade humana. Três artigos nesta edição trazem exemplos nesse sentido. Dois deles tratam da inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais: um deles aborda sequências didáticas para o ensino de conceitos de estequiometria a alunos com deficiência auditiva; o outro descreve o uso de experimentos com alunos deficientes visuais, em uma abordagem multissensorial. Um terceiro artigo resgata os conhecimentos de mineração e metalurgia dos africanos trazidos escravizados para o Brasil, inserindo o ensino de química na discussão do racismo ainda tão presente em nossa sociedade.
A temática da Educação Ambiental está presente em dois artigos. No primeiro, um grupo de pós-graduandos desenvolveu um trabalho em uma escola de Ensino Médio, a partir do tema transversal “O rio e a escola” integrado ao currículo da escola, propiciando a aprendizagem de conteúdos de química e de outras disciplinas em um contexto significativo para os alunos. No segundo artigo, os autores descrevem a criação e avaliação de um jogo didático do tipo RPG, abordando a Educação Ambiental utilizando conceitos da área de química dos alimentos.
Variados conteúdos de química são focalizados nesta edição, sempre de maneira contextualizada: terpenos e vidros planos são temas de dois artigos. O ensino do conceito de polaridade é também discutido, em relato de atividade realizada com alunos do ensino médio, por meio de experimentos de cromatografia em papel. A contextualização está presente ainda em outro relato, no qual o ensino de química foi estruturado em torno do tema do milho, ingrediente de diversas comidas típicas das festas juninas. Considerando que o mês de junho está próximo, professores de química de todo o Brasil podem se inspirar nesse artigo para desenvolver atividades temáticas semelhantes com seus alunos.
A formação inicial de professores merece destaque no artigo que trata da escrita como forma de constituir-se professor-pesquisador, oferecendo importantes reflexões sobre o papel das interações que ocorrem no coletivo de licenciandos, bem como sobre a apropriação das possibilidades da escrita para a formação dos futuros docentes. Finalmente, a seção Cadernos de Pesquisa toma como objeto de investigação os artigos publicados em 20 anos da nossa QNEsc (1995-2014), a fim de caracterizar a constituição do discurso da Educação Química no âmbito da comunidade de autores que publicam neste periódico.
Que a leitura desta edição seja agradável e frutífera para todos!
A sanção da Reforma do Ensino Médio, no início de fevereiro, gerará mudanças que afetarão a sociedade brasileira e, de forma ainda mais contundente, muitos dos nossos leitores, envolvidos diretamente no processo educativo. Assim, neste primeiro número do ano de 2017 da revista Química Nova na Escola, é relevante apontar aspectos norteadores da referida Reforma, que demandam reflexão por parte de cada um de nós. A flexibilização do currículo, o aumento da carga horária e a ampliação do número de escolas de tempo integral ocupam posição de destaque, juntamente com o reconhecimento de profissionais com notório saber como aptos a ministrar conteúdos no Ensino Médio. Seguramente, são aspectos não consensuais e alguns extremamente polêmicos na perspectiva da comunidade de educadores químicos. Isso nos impõe o desafio de acompanhar atentamente os desdobramentos da Reforma e das propostas que serão lançadas visando a sua efetivação, de modo a compreendermos que impactos terão sobre a educação nacional. O nosso posicionamento crítico frente a elas se constitui em recurso fundamental para o alcance do ensino de ótima qualidade que almejamos para todos os cidadãos brasileiros. Posicionamento este que precisa estar ancorado em nossas experiências e conhecimentos inerentes ao assunto.
Na intenção de contribuir para o enriquecimento desse cabedal de conhecimentos que nos habilita a assumir uma postura crítica frente às turbulências da realidade que nos cerca, o atual número da revista está recheado com assuntos que contemplam metodologias inovadoras de ensino, a formação de professores e a história da química. Atenção especial é dedicada às oficinas temáticas no âmbito do ensino de química. De fato, três artigos reúnem elementos que viabilizam o entendimento sobre o seu funcionamento e destacam suas potenciais contribuições para a formação dos estudantes. No primeiro deles, “A utilização de uma oficina de ensino no processo formativo de alunos de ensino médio e de licenciandos”, foi abordado o tema produtos naturais. As plantas medicinais foram alvo de estudo no segundo artigo, conforme indica o título “Plantas Medicinais: oficina temática para o ensino de grupos funcionais”, e os combustíveis delinearam as ações descritas no terceiro: “Combustíveis: uma abordagem problematizadora para o ensino de química”.
A leitura do conjunto de textos sobre as oficinas temáticas evidencia ainda as contribuições das pesquisas para o aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem, uma vez que todos eles encontram inspiração e subsídios teóricos em trabalho publicado, em 2008, por Maria Eunice Ribeiro Marcondes na revista Em Extensão. Este se vincula estreitamente a dissertações e teses originárias do Grupo de Pesquisa em Educação Química (GEPEQ), da Universidade de São Paulo, por ela liderado.
A preocupação com o tratamento de temas que viabilizam o estudo dos conteúdos de química de forma contextualizada e relacionada com o dia a dia dos estudantes também permeia as propostas descritas no artigo “A Química na Odontologia”. Reações químicas que podem ser exploradas a partir de materiais de fácil aquisição utilizados na prática odontológica são discutidas, assim como a relação entre a química e os problemas de saúde bucal, o processamento radiográfico odontológico, os anestésicos e os materiais restauradores. A questão da experimentação no ensino de química está presente neste número, no contexto da construção e avaliação de dispositivo para determinação de material particulado em ambientes internos e externos. Em contraponto, temas que ainda são pouco explorados também encontram espaço nos artigos “Tem dendê, tem axé, tem química: sobre história e cultura africana e afro-brasileira no ensino de química” e “Motivação dos alunos: reflexões sobre o perfil motivacional e a percepção dos professores”.
A formação leitora dos estudantes, por sua vez, está novamente em pauta no artigo “Monteiro Lobato e Paulo Freire: problematizando O Poço do Visconde”. Na seção Cadernos de Pesquisa, portanto, é possível recordar a infância, enquanto o potencial pedagógico do livro para o ensino de química é deslindado.
Temos perdido muito ultimamente. Perdemos a ilusão de que os rumos da política seriam decididos nas urnas, pelo voto popular. Perdemos mais uma oportunidade de ver o país crescer, construir condições de vida dignas para a maioria da população e ser soberano. Assistimos a grupos, dentro e fora do aparato estatal, dentro e fora do país, golpearem as instituições, usurpar o poder e trair as aspirações populares - defendendo interesses que certamente não são os nacionais. Perdemos parte de nossa humanidade com a escalada do discurso de ódio, da intolerância e da violação de direitos elementares, como o da presunção da inocência e à justa defesa nos processos judiciais. A cada dia, perdemos um pouco de nossa voz, com a criminalização dos movimentos sociais e a crescente violência promovida pelos aparatos de repressão do Estado contra qualquer manifestação que se oponha aos donos do poder.
No campo da educação, perdemos mais uma oportunidade de atacar os verdadeiros problemas: a Medida Provisória que trata do Ensino Médio, proposta sem qualquer discussão com a sociedade, ou não trará melhores resultados educacionais, ou irá piorar ainda mais um quadro que já é de penúria. Ao mesmo tempo, os donos do poder procuram ocultar o que não lhes interessa: o desempenho dos alunos das escolas federais no mais recente exame internacional PISA (que costuma ser utilizado como medida do fracasso do sistema educacional brasileiro) é bem superior à média nacional, e comparável ao de países mais desenvolvidos. Não por acaso, nos Institutos Federais os professores não são “horistas”, mas contratados em dedicação exclusiva, suas carreiras são valorizadas, as condições de trabalho são melhores que a média das escolas públicas, e seus salários, se não são comparáveis aos de professores de outros países, ao menos não são indignos. Também não por acaso, esses fatos não repercutem na grande mídia, que prefere repetir as falácias de pseudo-especialistas em educação - como a de que o gasto em educação, no Brasil, é comparável ao dos países mais desenvolvidos, em termos de porcentagem do PIB. Logo, os recursos estariam sendo mal empregados. Não é difícil desmascarar essa falácia: para que todas as escolas brasileiras tivessem a estrutura das escolas federais, em termos materiais e de valorização docente, teríamos que investir mais do que aqueles países, que já fizeram esse investimento no passado. Entretanto, como falar em maiores investimentos em educação, agora que o Congresso Nacional aprovou a emenda constitucional que congela os gastos públicos por vinte anos? Enfim, é preciso definir prioridades: os juros da dívida pública precisam ser pagos, conforme as leis do mercado, pois, do contrário, será o caos. Para os donos do poder, pessoas sem acesso à saúde e educação não são o caos. Afinal, a meritocracia há de garantir que quem trabalhar mais e melhor terá acesso à saúde e educação. Por que se preocupar com quem não se esforçou o suficiente, não é mesmo?
Alguns de nós já perderam a esperança de ver o Brasil realizar seu imenso potencial. Nem todos, porém. Nas centenas de escolas e Universidades ocupadas por estudantes pelo país afora, muitos jovens ainda acreditam que as coisas podem ser diferentes. Ingenuidade, dirão alguns. Há que considerar, no entanto, que essa mesma juventude será a responsável pelo futuro do país, cabendo a ela criar as condições para que nosso destino não seja o de sermos eternamente subalternos.
Para nossa tristeza, a comunidade de educadores químicos brasileiros perdeu também um grande batalhador. No final do mês de outubro passado, nosso colega Wildson Luiz Pereira dos Santos nos deixou precocemente, aos 55 anos de idade. Professor da Universidade de Brasília, onde orientou 15 dissertações de mestrado e 7 teses de doutorado, Wildson contribuiu de muitas maneiras para a área de ensino de química. Entre 1993 e 1996, integrou a Diretoria da Divisão de Ensino de Química da SBQ. Além de dezenas de artigos e capítulos de livros, Wildson foi co-autor de livros didáticos de química - um dos quais recebeu, em 2001, o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, na categoria Livro Didático - Ensino Fundamental e Médio. Para nós, a perda é particularmente sentida: entre 2007 e 2015, Wildson foi Editor de Química Nova na Escola, período em que a revista passou de dois para quatro números ao ano e experimentou crescente repercussão e impacto entre os educadores em química. Wildson foi um dos idealizadores e primeiro responsável pela seção Cadernos de Pesquisa, inaugurada em 2015. Wildson entendia que nossa comunidade já crescera em número e maturidade para ter uma revista dedicada exclusivamente à publicação de trabalhos de pesquisa, e a seção Cadernos de Pesquisa de Química Nova na Escola haveria de ser o embrião desse novo periódico. Em todos que o conheceram, o professor Wildson deixa a lembrança de gentileza, integridade e espírito de colaboração em prol dos bons ideais. Os atuais Editores de QNEsc se sentem honrados por haverem compartilhado a editoria desta revista com Wildson entre 2013 e 2015, e manifestam aqui sua gratidão por seus ensinamentos e pela convivência enriquecedora em tantos aspectos.
Dedicamos este número de QNEsc à memória do professor Wildson, e desejamos que seu exemplo sirva de inspiração a todos os educadores químicos brasileiros. Boa leitura!
Agosto efervescente: olimpíadas, impeachment e muito mais
No mês de agosto, o Brasil sediou os Jogos Olímpicos Rio-2016. O evento foi recheado de momentos marcantes com abertura espetacular, competições inesquecíveis e calorosa cerimônia de encerramento. Milhões de brasileiros foram tomados pela sensação de orgulho ao ver a sua cultura, música e história divulgadas e admiradas pelos quatro cantos do mundo. Ademais, lições de superação e disciplina, dentre tantas outras, puderam ser extraídas diariamente por todos nós.
Também em agosto, um segundo evento mobilizou o país: no último dia do mês, o plenário do Senado aprovou o impeachment de Dilma Rousseff. O ato foi seguido pela cerimônia de posse de Michel Temer como presidente da República, com permanência no poder prevista para até 2018, que expressou o compromisso de “recolocar o Brasil nos trilhos”. Seguramente, em breve, teremos a oportunidade de melhor compreender o significado desse compromisso e identificar em que trilhos nos pretendem colocar. Especialmente no que diz respeito à educação, inúmeros desafios serão enfrentados diante dos severos cortes de gastos que a área vem sofrendo nos últimos anos e que se anunciam como ainda maiores no futuro.
Em um contexto bem mais restrito, porém bastante relevante para a comunidade de educadores químicos, foi com alegria que tivemos acesso, também no corrente mês, aos números grandiosos relativos ao XVIII Encontro Nacional de Ensino de Química (ENEQ). Promovido pela Universidade Federal de Santa Catarina, pelo Instituto Federal de Santa Catarina e pelo Instituto Estadual de Educação, o ENEQ ocorreu em Florianópolis, no período de 25 a 29 de julho, e contou com 2614 inscritos, sendo 1488 estudantes de graduação, 385 estudantes de pós-graduação, 440 professores da educação básica e 301 professores de educação superior. O número de trabalhos aceitos chegou a 1500, superando os 1066 do evento anterior e evidenciando a enorme potencialidade do ENEQ em atingir o objetivo de reunir pessoas interessadas na área de ensino de química, assim como as que tomam esse ensino como alvo de investigação.
É importante ainda destacar a criação, durante o ENEQ, de uma comissão para estudo e proposição de uma entidade que represente professores e pesquisadores em ensino de química, denominada de Comissão Nacional Provisória da Associação de Educadores Químicos, que tem Attico Chassot, Maria Eunice Marcondes e Roseli Schnetzler como presidentes honorários. A comissão é composta pelos seguintes membros: Gerson Mól, Elisa Massena, Maria Helena Beltran, Wildson Santos, Sidnei Quezada, Eduardo Mortimer, Marcelo Giordan, Agustina Echeverria, Bruno Leite, Maurivan Ramos e Sidelene Farias. Esta Editoria reconhece a importância da iniciativa e deseja sucesso à comissão.
Ainda no mês de agosto, a Diretoria e o Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) divulgaram que os manuscritos submetidos à Química Nova na Escola, a partir do dia primeiro de setembro de 2016, seguirão a política das demais publicações da SBQ. Isso implica na contribuição dos autores com parte dos custos da publicação de seus artigos. Maiores detalhes sobre a cobrança, que passará a ser praticada, podem ser obtidos no site da QNEsc. A SBQ continua responsável por arcar com parte significativa do custo de publicação da revista. Esperamos continuar contando com o apoio da comunidade de educadores químicos, tanto no que diz respeito à submissão como no que se refere à leitura dos artigos da revista. A QNEsc, que representa um marco no fortalecimento dessa comunidade e tem contribuído fortemente ao longo dos seus 20 anos de existência para o ensino de química no país, não poderá sobreviver sem tal apoio.
Este número traz vários artigos que podem auxiliar o professor nas suas práticas em sala de aula. A abordagem de questões relacionadas às comunidades indígenas, ainda pouco recorrente na QNEsc, é privilegiada a partir da discussão de uma proposta pautada na inserção da cultura indígena como tema transversal para o ensino de conteúdos de química. A introdução da história e da filosofia das ciências em ambientes de ensino e aprendizagem, também escassamente contemplada na revista, é sugerida a partir da realização de uma abordagem histórica e social da exploração da cana-de-açúcar no Brasil Colônia.
É sabido que as dificuldades encontradas pelos professores na realização de aulas práticas de ciências naturais têm grande impacto sobre as ações que promovem nas escolas. Tais dificuldades são investigadas em artigo desta edição, assim como o perfil identitário dos alunos da Educação deJovens e Adultos.
Os processos de elaboração e avaliação de livros didáticos de química, no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), são discutidos na seção Cadernos de Pesquisa, tendo em vista a compreensão de efeitos produzidos nas obras didáticas a partir de diferentes contextos.
A campanha que prometia acabar com a corrupção no Brasil já gerou um resultado concreto: o afastamento da presidente eleita pelo voto direto. Aguardemos a restauração da moralidade no trato da coisa pública que – a acreditar nos manifestantes que tomaram para si as cores verde e amarela – sempre existiu no Brasil e somente foi interrompida nos últimos anos. Neste momento, temos um governo que supostamente seria provisório, até o julgamento final pelo Senado. Seu comportamento, no entanto, com o desmonte de toda a estrutura do governo afastado, revela que a sentença já é conhecida e que o julgamento em curso no Senado só pode ter um resultado. A salvação nacional aparentemente passa pela redução do déficit público, e o governo provisório tratou de extinguir ministérios, ainda que a economia disso para as contas públicas seja apenas simbólica. Maior simbologia, entretanto, reside nas pastas escolhidas para o corte: foram extintos, entre outros, o Ministério das Mulheres; da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos; o da Ciência, Tecnologia e Inovação (agora unificado ao Ministério das Comunicações); e o da Cultura – este foi recriado poucos dias depois, após intensa campanha promovida por representantes e entidades dos meios artístico e cultural repercutida pela mídia. O meio científico também se manifestou contra a incorporação da C&T ao Ministério das Comunicações, mas nesse caso, pouca repercussão houve na mídia. A Previdência Social passa a ser subordinada ao Ministério da Fazenda, não mais ao do Trabalho. O governo provisório também já deixou claro que pretende economizar nas áreas de Saúde e Educação. O próprio ministro provisório da Saúde declarou que o Brasil não tem como garantir os direitos previstos na Constituição Federal como o acesso universal ao sistema público de saúde. O ministro provisório da educação montou sua equipe com nomes ligados à educação privada e defensores do Estado mínimo. Resta-nos esperar que a prometida eficiência nos gastos públicos não seja, de fato, apenas um discurso destinado a ocultar cortes de verbas para áreas prioritárias como a Educação.
Em meio à turbulência política, os educadores seguem sua jornada. Neste número de Química Nova na Escola, tendências atuais do ensino de ciências são objeto de discussões, aprofundamentos e análises sob vieses variados. A interdisciplinaridade é abordada em quatro artigos, abrangendo aspectos bastante distintos: sua presença nas questões do ENEM (Abordagem da química no Novo ENEM: uma análise acerca da interdisciplinaridade); possibilidades de diálogo entre literatura e química (Anotações a Experimentação e literatura: contribuições para a formação de professores de química);possibilidades para a formação de professores (Análise de alimentos: contextualização e interdisciplinaridade em cursos de formação continuada); além de um artigo especial do Prof. Attico Chassot, que discute concepções acerca da transgressão das fronteiras disciplinares (Do rigor cartesiano disciplinar à indisciplinaridade feyerabendiana). As potencialidades e os usos dos recursos multimídia são abordados em dois artigos, um dos quais faz uma revisão acerca das novas tecnologias no ensino de química (Uso de softwares educacionais, objetos de aprendizagem e simulações no ensino de química), enquanto o outro propõe o uso desses recursos em um contexto investigativo (Ensino de modelos para o átomo por meio de recursos multimídia em uma abordagem investigativa). A abordagem investigativa também se faz presente em outro artigo, no qual são propostas atividades experimentais para a solução de um problema simulado em sala de aula (A ciência forense no ensino de química através da experimentação investigativa e lúdica). Outra estratégia que tem sido objeto de discussões teóricas e propostas de ação em tempos recentes em nossa área é a que envolve estudos de caso. Nesta edição de QNEsc, uma proposta de utilização dessa estratégia para a formação docente é focalizada no artigo Análise de uma estratégia de estudo de caso vivenciada por licenciandos de química. Também inovador é o enfoque do artigo que trata de um dos mais bem-sucedidos programas de formação de professores desenvolvidos no país nos últimos anos, o PIBID: os autores buscaram investigar seu impacto do ponto de vista de alunos do ensino médio que participaram de aulas e atividades desenvolvidas no âmbito desse programa (A influência do PIBID/Química da UFRGS sobre o desempenho escolar de alunos de ensino médio). Como é característico de nossa revista, marcam presença também artigos que trazem reflexões e sugestões para o ensino, tanto sob perspectivas teóricas quanto experimentais, de conteúdos químicos específicos – tais como a isomeria óptica (Desenhando isômeros ópticos) e a espectrofotometria (Espectrofotometria no ensino médio: construção de um fotômetro de baixo custo e fácil aquisição). Destaca-se, ainda nesse contexto, o artigo da seção Cadernos de Pesquisa, que apresenta uma revisão sobre o ensino de ácidos e bases (Revisão no campo: o processo de ensino-aprendizagem dos conceitos ácido e base entre 1980 e 2014).
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Desejamos a todo o nosso público uma agradável e proveitosa leitura.
Nas salas de aula, uma nova versão da tabela periódica
O ano de 2016 se inicia com uma notícia alvissareira para a comunidade de químicos: a International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC) anunciou a inserção de quatro novos elementos à tabela periódica. Esta se encontra agora completa até o sétimo período com a presença dos elementos 113, 115, 117 e 118, que ainda não possuem nome oficial e foram provisoriamente denominados, respectivamente, de unúntrio, unumpêntio, ununséptio e ununóctio. A produção desses elementos, altamente radioativos, foi realizada por cientistas dos Estados Unidos, da Rússia e do Japão e direciona os olhares do mundo inteiro para um dos instrumentos mais valiosos para iluminar os caminhos na pesquisa científica. A magia da tabela periódica, difundida em livros como os de Oliver Sacks (Tio Tungstênio: memórias de uma infância química) e de Primo Levi (A tabela periódica), nos quais se mesclam conceitos e processos químicos com lembranças autobiográficas, renasce com a sua ampliação.
Seria uma pena se essa nova versão da tabela periódica circulasse nas salas de aula em contextos carentes de inovações nas práticas educativas, e se toda a magia que acompanha esse instrumento de trabalho dos químicos se perdesse em abordagens não prazerosas e inadequadas para a aprendizagem. Nessa perspectiva, é premente a necessidade de adoção de ações amplamente difundidas na literatura e capazes de trazer um sopro de renovação aos ambientes de ensino, especialmente agora, quando está em discussão a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que oferecerá subsídios para a orientação da educação básica no país. Experiências internacionais, que resultaram na produção de documentos de cunho similar, apontam para a relevância da preservação de conteúdos absolutamente essenciais para que os indivíduos tenham um conhecimento substancial da matéria em questão e do desenvolvimento de habilidades como argumentação, criatividade e capacidade de produzir em equipe. Para tanto, não é raro, por exemplo, o planejamento conjunto de aulas por parte de professores de áreas distintas que podem resultar no estímulo à colaboração entre os alunos e no fomento à independência para a realização de pesquisas que fundamentam a resolução de problemas solicitada nas tarefas escolares.
Integram o presente número de Química Nova na Escola artigos que se alinham com alguns dos pressupostos que inspiram a elaboração da BNCC, como o intitulado Ensino por temas: a qualidade do ar auxiliando na construção de significados em química. Nesse trabalho, os autores relatam uma experiência de ensino no nível médio que favoreceu a articulação do conhecimento químico a aspectos geográficos, econômicos e sociais por meio do estudo de dados sobre a qualidade do ar da região central de Belo Horizonte. Premissas que pautam o movimento Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS) nortearam a escolha do tema e os procedimentos adotados em sala de aula.
A perspectiva CTS é retomada no artigo Isômeros, funções orgânicas e radicais livres: análise da aprendizagem de alunos do ensino médio segundo a abordagem CTS, a partir da realização de atividade proposta no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Uma segunda iniciativa vinculada ao PIBID, realizada da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é relatada no artigo Contribuição da escrita reflexiva à reelaboração de saberes: olhares de licenciandos participantes do PIBID Química. Experiências vivenciadas pelos licenciandos são alvo de leitura, discussão, reflexão e registro em portfólios, tendo em vista a análise das contribuições da escrita reflexiva neles existentes. A sugestão de elaboração de portfólios reflexivos ou formativos tem sido mencionada por autores da QNEsc nos últimos anos, com destaque para ações realizadas na Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
No artigo Desenvolvimento e aplicação de uma webquest para o ensino de química orgânica: controle biorracional da lagarta-do-cartucho do milho, encontram-se alinhadas iniciativas que traduzem tendências atuais no ensino de química e servem para revigorá-lo. Nesse contexto, destaca-se o fato de o trabalho ter sido idealizado com base em transposição didática de conhecimento gerado em laboratório de pesquisas em química, desenvolvida pelo Projeto Controle Biorracional de Insetos Praga, associado aos conteúdos específicos de química orgânica, assim como de sugerir a participação dos alunos do ensino médio em atividades colaborativas, mediadas por webquest, que abordam controvérsias científicas por meio da metodologia de estudo de casos.
A história da química e questões pertinentes à experimentação no ensino de química também estão presentes neste número a partir da discussão sobre a descoberta dos lantanídeos e de investigação a respeito de como a docência na licenciatura em química contribui para a aprendizagem sobre experimentação.
Desejamos a todos um excelente 2016 e uma ótima leitura dos artigos que integram a primeira revista do ano!
QNEsc Vol. 37 No especial 2(exclusivamente on-line)
Celebração de 20 anos de Química Nova na Escola
Em maio de 2015, a revista Química Nova na Escola completou 20 anos. Para celebrar esta data, os editores organizaram o presente número, destacando as contribuições que a revista proporcionou durante toda a sua existência. Química Nova na Escola, criada durante o VII Encontro Nacional de Ensino de Química, realizado em Belo Horizonte, é fruto da comunidade de pesquisadores da Divisão de Ensino de Química – que foi responsável, durante seus 20 anos de existência, por todo o processo editorial.
Contribuíram com este número os coordenadores de seção que estiveram à frente do processo de estruturação da revista, nos seus anos iniciais, e colegas que nos ajudam a compreender o movimento de crescimento da comunidade de pesquisadores de ensino de química e sua contribuição na construção de novos paradigmas no processo pedagógico de sala de aula. Estão reunidos neste número artigos de todas as seções, oferecendo uma análise das publicações do segundo decênio de existência da revista e apontando direcionamentos para avanços de cada seção.
O retrato delineado nesta edição mostra um empreendimento dinâmico, que acompanha a evolução da comunidade de educadores em química. QNEsc se propôs, desde seu início, a ser um instrumento presente nas salas de aula, oferecendo instrumentos didáticos, oportunidades de reflexão e permanente atualização para os professores de química. O transcorrer do tempo mostrou que QNEsc transcende esse papel de muitas formas, sem nunca deixar de cumprir sua missão em sala de aula. A revista tem sido um valioso instrumento para a formação inicial de professores, e para que licenciandos e seus formadores tenham oportunidade de compartilhar suas experiências com seus pares – como é demonstrado, por exemplo, nos diversos artigos com relatos e análises sobre ações oriundas do PIBID, publicados em um número dedicado a este tema em 2012 e em diversos outros números da revista. O crescimento do número de programas de pós-graduação em ensino de ciências fez de QNEsc um veículo importante para a disseminação do conhecimento gerado pelas pesquisas na área de ensino de química no âmbito desses programas. Em suma, QNEsc cresceu, amadureceu e ganhou em complexidade ao longo dos últimos vinte anos, paralelamente ao que também aconteceu com a comunidade de educadores em química nesse período.
O processo editorial da revista sofreu profundas mudanças ao longo dos últimos anos, dos quais se pode destacar: a implantação de sistema de editoração hoje vinculado ao PubliSBQ; o aumento do número de fascículos por ano; e a dinâmica de fluxo do processo de emissão de pareceres com maior atuação dos coordenadores de seção. Esta nova dinâmica tem permitido diminuir o tempo decorrido entre o recebimento inicial de um manuscrito e sua publicação – o que é benéfico para todos, mas somente é possível porque QNEsc conta com um corpo de assessores sérios, dedicados e conscientes da importância de produzirem pareceres críticos construtivos e bem fundamentados. A todos esses assessores, nunca é demais agradecer pela inestimável colaboração, sem a qual a revista não poderia alcançar a qualidade que todos almejamos. A análise desenvolvida nos diversos artigos deste número aponta, de muitas maneiras, caminhos para serem delineados na nova década que se inicia. Uma nova geração de pesquisadores tem sido formada e a ela compete o importante papel de dar continuidade à revista, buscando permanente melhoria de sua qualidade, abrangência temática e profundidade analítica e crítica.
A crise econômica que o país atravessa, porém, coloca em risco as conquistas alcançadas por QNEsc. A entrada de recursos que permitem à SBQ manter suas atividades – anuidades dos sócios, inscrições na Reunião Anual, financiamento às revistas pelas agências de fomento – tem diminuído de maneira substancial. Em função disso, são necessárias mudanças em todas as editorias da PubliSBQ. Acompanhando a tendência de outras revistas científicas, e alinhada às demais publicações da SBQ, Química Nova na Escola sairá apenas com a edição on-line, facultada a impressão de exemplares para os novos assinantes que desejarem pagar os custos reais de impressão. É preciso esclarecer que a venda de assinaturas de QNEsc é subsidiada pela SBQ: o preço cobrado dos filiados à Divisão de Ensino de Química correspondeu, em 2015, a apenas 20% dos custos da revista impressa. A SBQ não abre mão de um princípio: a gratuidade no acesso a suas revistas on-line. Assim sendo, outras formas de financiamento de suas publicações, ou de redução de seus custos, terão que ser buscadas neste momento de crise econômica.
Além dos artigos analíticos de cada seção, outros destacam pontos específicos. No artigo “Química Nova na Escola – 20 anos: um patrimônio dos educadores químicos” é traçado um histórico da revista e o papel dos educadores químicos na sua construção. Os dois artigos seguintes abordam contribuições da QNEsc no além-mar, em Portugal e na Espanha (“Química Nova na Escola: um caso de sucesso” e “Química Nova na Escola: su impacto en España y su relación con las revistas españolas Alambique y Educació Química EduQ”), demonstrando o amplo alcance da revista. No artigo “Química Nova na Escola: contribuições para o desenvolvimento de atividades didáticas” são apresentadas sugestões de como QNEsc pode ser utilizada em sala de aula. Todo esse conjunto de artigos demonstra a pujança de QNEsc e inspira a comunidade de educadores químicos a continuar levando em frente o patrimônio construído nos seus 20 anos, enfrentando com criatividade as dificuldades financeiras. Que sirvam de inspiração para todos os nossos leitores buscarem novas perspectivas em prol do aperfeiçoamento da educação química nas próximas décadas!
Boa celebração do aniversário de QNEsc!
Paulo Alves Porto Salete Linhares Queiroz Wildson Luiz Pereira dos Santos
A Revista Química Nova na Escola (QNEsc), com uma periodicidade trimestral, propõe-se a subsidiar o trabalho, a formação e a atualização da comunidade do Ensino de Química brasileiro. QNEsc integra-se à linha editorial da Sociedade Brasileira de Química, que publica também a revista Química Nova e o Journal of the Brazillian Chemical Society. Química Nova na Escola é um espaço aberto ao educador, suscitando debates e reflexões sobre o ensino e a aprendizagem de química. Assim, contribui para a tarefa fundamental de formar verdadeiros cidadãos. Nesse sentido, a Divisão de Ensino disponibiliza neste portal, na íntegra, e de forma totalmente gratuita, todos os artigos publicados no formato PDF. Estão disponíveis também os Cadernos Temáticos publicados desde 2001 pela Divisão de Ensino.
Comunicado
A Diretoria e o Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) decidiram que os manuscritos submetidos à revista Química Nova na Escola (QNEsc) a partir de 1º. de setembro de 2016 seguirão a política das demais publicações da SBQ, segundo a qual os autores deverão contribuir com parte dos custos da publicação de seus artigos.
Cabe ressaltar que a cobrança será realizada apenas após a aprovação da publicação, de forma a deixar claro que esta iniciativa não tem nenhuma relação com a avaliação das submissões, que seguirá seu procedimento normal. Ou seja, nada é cobrado pela submissão do artigo.
O pagamento deverá ser efetuado em nome dos autores correspondentes, que terão direito a descontos se comprovarem ser associados ativos da SBQ. As seguintes taxas de publicação serão aplicadas (apenas após a aceitação do manuscrito pelos editores) aos manuscritos recebidos pelo sistema de submissão de QNEsc a partir do dia 01/09/2016.
• Autor correspondente não associado à SBQ: R$ 475,00 (sem desconto);
• Autor correspondente associado à SBQ que tenha quitadas as 2 anuidades mais recentes: R$ 285,00 (40% de desconto);
• Autor correspondente associado à SBQ que tenha quitadas as 5 anuidades mais recentes: R$ 95,00 (80% de desconto).
Caso o autor correspondente seja professor da rede pública de ensino básico, incidirá um desconto de 50% sobre os valores listados acima. Nesse caso, será solicitada uma declaração da direção da escola pública de ensino fundamental ou médio em que o professor trabalha, atestando seu vínculo empregatício.
Os pagamentos deverão ser feitos através de depósito ou transferência bancária, diretamente para a conta da SBQ/PubliSBQ.
Dados bancários:
Sociedade Brasileira de Química
CNPJ: 49.353.568/0001-85
Banco do Brasil
Agencia 2447-3
Conta Corrente 38064-4
É importante salientar que a SBQ continua responsável por cobrir parte significativa dos custos editoriais e de publicação de seus periódicos, em um esforço para manter essas taxas as mais baixas possíveis.
Agradecemos a sua compreensão e esperamos continuar contando com sua colaboração como um autor para a QNEsc.
Editores de QNEsc
Indexações
Chemical Abstracts, Latindex, EDUBASE, Portal de Periódicos da CAPES, CCN/IBICT, Google Acadêmico, Unibibliweb e DOAJ: Directory of Open Access Journals